Ensino

Adeus férias, olá escola: como tornar o regresso às aulas mais tranquilo

Adeus férias, olá escola: como tornar o regresso às aulas mais tranquilo
MÁRIO CRUZ/LUSA

Começou um novo ano letivo e, para cerca de 1,3 milhões de crianças, voltaram as rotinas, as corridas e os desafios diários próprios do regresso à escola. Para para tornar tudo mais fácil, ficam algumas dicas preciosas

Mariana Rebocho

Jornalista

Muitas escolas abriram esta semana as portas para mais um ano letivo. Por um lado, para alívio dos pais - porque acabou a correria às mochilas, lancheiras, lápis e canetas - por outro, para voltarem as dificuldades habituais, sejam as famosas birras diárias dos mais novos, que não querem ficar na sala de aula, seja a luta para conseguir por na cama quem não quer dormir cedo.

É necessário compreender que este período vai para lá da simples compra de material escolar, recomendam os especialistas, já que é uma altura importante para preparar o terreno para o bem-estar emocional e físico das crianças.

Raquel Raimundo, da direção da Ordem dos Psicólogos Portugueses, está habituada a tratar do tema. Como profissional, trabalha diariamente com crianças e no seu consultório o regresso às aulas é assunto frequente.

O processo de adaptação pode ter dois caminhos: “Muitos ficam felizes porque vão rever os amigos ou vão estrear o material novo, mas outros entram em tristeza por terem medo de não conseguirem entender a matéria ou porque durante três meses tiveram uma rotina e agora têm outra”.

Mário Cordeiro, pediatra e autor de vários livros relacionados sobre a infância, recorda que as “férias são - para a maioria - um período de ‘liberdade’ em termos de horas de deitar, atividades”, pelo que as aulas “podem ser encaradas como um ‘regresso à seca’”. “Cabe aos adultos estimularem o regresso, mostrando as hipóteses de aprendizagem e de aquisição de conhecimentos e aperfeiçoamento”, aconselha, sem dizerem apenas "no meu tempo ainda era pior’”.

Para Raquel Raimundo, a chave para que a transição dos três meses de férias para o regresso às aulas seja menos difícil é fazer um retorno de forma gradual. “Aos poucos vão-se introduzindo pequenas coisas que vão fazer a criança voltar à rotina", sugere. Por exemplo, nos dias que antecedem o regresso à escola, acordar um pouco mais cedo do que era habitual nas férias, “e ser a criança a preparar a mochila”. "O próprio regresso de atividades extracurriculares pode ajudar”, garante.

Outro conselho importante dado pela psicóloga, é os pais não deixarem que os filhos percebam as suas próprias inseguranças. “A criança tem de perceber que está num local seguro, mas se vê os pais emocionados ou com a sensação que o estão a ‘abandonar’, vai acabar por sentir que está a ser abandonado e que aquele sítio não
é de confiança”.

Raquel Raimundo refere que as crianças têm de sentir-se confortáveis e ter espaço para construir o próprio caminho: “Num dia podemos ter quatro estações: pode chorar, ficar zangado e no final do dia sai sorridente porque já fez amigos. Tem de se dar tempo ao tempo”. Sublinha, também, que os pais não devem fazer comparações face aos filhos de familiares ou amigos. “Cada criança tem o seu tempo de adaptação”, ainda que seja necessário estar alerta - se sinais de tristeza permanecerem mais de um mês, deve ser procurada ajuda.

Conversar no final do dia

Finalmente, Raquel Raimundo aconselha os pais a adotar o hábito de conversarem no final do dia com a criança, ou seja, perguntar como foi o dia. “É nestas conversas que os pais podem perceber o que não correu tão bem e podem ajudar a criança a perceber a situação.”

Mário Cordeiro concorda: “Falar de coisas boas, das vantagens de saber mais e de aprender, de se aperfeiçoar, das atividades que vai fazer e, sobretudo, falar do desafio que é, de uma forma positiva e estimulante”.

Para lidar com as birras o pediatra reforça a necessidade "de ser empático e entender que o nosso filho dormiu pouco, que vem de outro registo, que não entende, obviamente (mesmo em idades maiores) a necessidade de aprender na escola, ou que ir à escola é tão importante como ficar a brincar.”

É também sabido que, com a ida para a escola, vêm as gripes e os vírus. Mário Cordeiro refere que o essencial para evitar a propagação dos vírus é não levar a criança doente para as aulas e “por muito complicado que seja, convém gizar logo um plano B (e até C) para o caso de um filho ficar doente”. Ainda assim, frisa, é importante ter presente que são situações comuns, que não devem ser encaradas com medo por parte dos pais.

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