Federação Académica do Porto propõe semana de quatro dias de aulas para estudantes universitários
katleho Seisa
A FAP defende que encurtar a semana de aulas é um “contributo relevante para a qualidade de vida dos estudantes universitários”. A federação propõe que o modelo seja colocado em prática já a partir do próximo ano letivo
A Federação Académica do Porto (FAP) quer cortar um dia de aulas nas universidades e politécnicos da cidade já no próximo ano letivo. A proposta, que defende a adoção de uma semana de quatro dias para os estudantes, foi formalizada esta terça-feira numa carta aberta enviada às direções das instituições de ensino superior do Porto.
O apelo é sustentado por um inquérito realizado pela FAP, em colaboração com o Instituto de Sociologia da Universidade do Porto, cujos resultados mostram que 80% dos estudantes da Academia do Porto reconhecem benefícios na adoção deste modelo. Entre os ganhos mais apontados estão o aumento da motivação, da concentração, da saúde mental e a melhoria na gestão entre a vida pessoal, familiar e académica.
“Portugal está entre os países europeus com maior carga horária em sala de aula. Em média, os estudantes portugueses têm mais 21 horas de atividades letivas do que os colegas da Alemanha, Reino Unido ou Itália, e o dobro da Suécia”, argumenta o presidente da FAP, Francisco Porto Fernandes, citado em comunicado. Segundo dados da federação, um estudante a tempo inteiro num curso de licenciatura dedica cerca de 46 horas por semana às atividades académicas, entre aulas, estudo e avaliações.
O inquérito procurou avaliar o impacto da medida em diferentes dimensões da vida estudantil. Sete em cada dez estudantes disseram sentir-se mais motivados e com mais energia quando consideram a possibilidade de ter apenas quatro dias de aulas por semana. Também a concentração e a qualidade do sono surgem como fatores com potencial de melhoria, referidos por seis em cada dez inquiridos.
A saúde mental é um dos pilares da proposta. Mais de metade dos estudantes acredita que a semana reduzida pode ajudar a mitigar sintomas de stress, ansiedade e depressão, problemas cada vez mais prevalentes em jovens adultos e com forte impacto no percurso académico.
Todavia, a FAP deixa um aviso: menos dias de aulas não pode significar mais carga concentrada. “A semana de quatro dias no ensino superior não pode significar a concentração de 21 horas de aulas nesses dias”, sublinha Francisco Porto Fernandes. Em vez disso, o presidente da federação defende um “novo paradigma, que conjugue a redução da carga horária com a inovação pedagógica, através da implementação de métodos de ensino e de avaliação mais adequados”.
Além do bem-estar individual, o modelo proposto traria efeitos colaterais positivos. Reduzir os dias de aulas pode aliviar os custos e o tempo associados às deslocações e contribuir para mitigar a crise no alojamento estudantil. “O modelo atual não responde à realidade de quem trabalha, vive longe ou enfrenta dificuldades socioeconómicas”, observa o presidente da FAP. “A implementação da semana de quatro dias é, sem dúvida, um contributo relevante para a qualidade de vida dos estudantes universitários”, advoga.
A proposta fica agora nas mãos das instituições. Para a FAP, trata-se de um ponto de partida para “uma mudança estrutural” no modelo académico português e não apenas de uma medida de alívio imediato. O compromisso da federação é o de continuar a puxar o debate para o espaço público e a mobilizar a academia em torno do que considera uma transformação necessária.