Não será possível aos pais vacinar as crianças dos 12 aos 15 anos fora da sua área de residência e também não será permitido aos jovens aparecerem nos centros de vacinação sem estarem acompanhadas por um responsável ou um dos pais, esclareceu o vice-almirante Gouveia e Melo na entrevista que concedeu esta quinta-feira à SIC.
“Temos estruturas fixas. Não conseguimos fazer um processo [de vacinação] que ande atrás das férias dos portugueses. Espero que os pais tenham oportunidade [de vacinar os filhos] antes ou depois das férias”, afirmou, admitindo ainda assim que os ‘timings’ não são perfeitos. “Infelizmente, não conseguimos controlar as variáveis todas. Não controlamos o tempo de chegada das vacinas. Houve aqui uma conjugação [de fatores] que não é positiva, porque uma fase significativa do processo de vacinação ainda está a decorrer. É uma condicionante que temos de superar.”
Quanto à ida dos jovens aos centros de vacinação sem o acompanhamento dos pais, afirmou apenas, e de forma lacónica, que tal não será possível. “Têm de estar acompanhados do respetivo responsável ou um dos pais.”
O vice-almirante aproveitou, mais uma vez, para sublinhar a importância da vacinação, em concreto a dos mais jovens. “Face à circulação da variante Delta, tenho a convicção de que precisamos de vacinar uma grande percentagem da nossa população para atingir a imunidade de grupo”, até para “proteger os mais novos que não podem ser vacinados”. Até há algum tempo, disse, julgava-se que com uma taxa de vacinação na ordem dos 70% se atingiria essa imunidade, mas não é isso que defende. “Julgo que terá de ser superior a 85%.” Logo, “ainda há muita água na piscina para retirar”.
Graça Freitas “pressionável”? “Não tenho essa ideia. Tomou atitudes muito corajosas”
Questionado sobre a decisão da Direção-Geral da Saúde (DGS) de recomendar a vacina a maiores de 12 anos dez dias depois de não o ter recomendado, Gouveia e Melo disse ter o “maior respeito” por Graça Freitas. O vice-almirante não a considera, como houve quem sugerisse, “pressionável”. “Tomou atitudes muito corajosas. Não tenho ideia de que seja pressionável, pelo contrário.”
O próprio, como se sabe, sempre apoiou a decisão de alargar a vacinação a esta faixa etária. “Há uma oportunidade logística porque as equipas estão no terreno. Além disso, é importante ter o maior número possível de pessoas vacinadas devido à variante Delta.” De acordo com o vice-almirante, a “DGS usou todo o tempo que tinha para decidir”. “Decisões antes do tempo não servem de nada.”
“A segunda dose reduz em 11 vezes a probabilidade de óbito”
A resistência à vacinação é algo de que está ciente, daí ser necessário combater o que considera ser um “clima infundado de receio”. “Não há dúvida de que o processo de vacinação veio reduzir imenso a mortalidade. A diferença no número de mortes de janeiro para agora deve-se essencialmente à vacinação”, referiu o vice-almirante, explicando que se encurtou o período de inoculação da segunda dose no caso das vacinas que requerem mais do que uma dose, precisamente para diminuir a mortalidade. “A segunda dose reduz em 11 vezes a probabilidade de óbito.”
Sobre um possível reforço da vacinação, pelo qual alguns países optaram, referiu apenas que se trata de uma decisão da DGS. “Neste momento não estamos, evidentemente, preparados para isso, porque o plano foi feita para uma ou duas doses, consoante a vacina.” Não “há estudos científicos que provem a necessidade de um reforço”, disse ainda, mas se se chegar à conclusão de que é necessário, a seu tempo se avançará, acrescentou.
Num recuo de alguns meses no tempo, Gouveia e Melo foi questionado sobre as investigações que estão em curso às fraudes cometidas no início do processo de vacinação, visando o INEM, autarquias e instituições de solidariedade social (IPSS). Não sabe em que fase estão, embora “muitas já tenham passado à fase de inquérito”. Uma coisa é certa, diz: “Haverá consequências. E será feita justiça” — mesmo que venha “um pouco atrasada”.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: hrbento@expresso.impresa.pt