A Direção-Geral da Saúde (DGS) recomenda de forma universal a vacinação dos jovens entre os 12 e os 15 anos contra a covid-19. A decisão foi anunciada esta terça-feira em conferência de imprensa por Graça Freitas, que garantiu ainda que a DGS “vai continuar a acompanhar a evolução do conhecimento científico”.
A responsável não adianta para já detalhes sobre o calendário de vacinação nesta faixa etária, sublinhando que a logística do processo será depois anunciada pela taskforce da vacinação contra a covid-19. Ainda assim, Graça Freitas disse que o processo de vacinação não terá um grande impacto no início do ano letivo das crianças entre os 12 e os 15 anos.
Na última reunião do Infarmed, a taskforce recomendou que, se esta decisão fosse tomada, os jovens entre os 12 e os 15 anos recebessem a primeira dose da vacinação nos dias 21 e 22 e 28 e 29 de agosto. No entanto, como reforçou Graça Freitas, estas datas ainda não estão confirmadas: será a taskforce, liderada pelo vice-almirante Gouveia e Melo, a ter a última palavra. "A vacinação dos jovens com idades compreendidas entre os 12 e os 15 anos está a ser planeada e será divulgada oportunamente", esclarece a taskforce.
Segundo Graça Freitas, o grupo etário entre os 12 e os 15 anos abrange cerca de 400 mil pessoas em Portugal, algumas das quais "já terão imunidade” contra o SARS-CoV 2, de acordo com um estudo serológico levado a cabo pelo Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA). “Tudo indica que o esquema vacinal será de duas doses”, adiantou porém a responsável. Neste momento, há duas vacinas autorizadas pela Agência Europeia do Medicamento para vacinar este grupo etário: Pfizer e Moderna.
Este assunto tem gerado um vivo debate na sociedade portuguesa nas últimas semanas: Luís Graça, imunologista e membro da Comissão Técnica de Vacinação, admitiu isso mesmo: “o tema é complexo”, tem havido "opiniões diferentes”, mas acabou por ser gerado um “certo consenso” que permite à DGS dar agora luz verde à vacinação dos adolescentes. Graça Freitas sublinhou esta mesma ideia: apesar das pressões sociais e políticas, a decisão “centrou-se nos dados [científicos] que existem de forma objetiva.”
“É para isso que há uma comissão técnica de vacinação”, disse a responsável, dando o exemplo dos Estados Unidos da América, onde 15 milhões de adolescentes já estão vacinados e os dados científicos mostram que isso não levou a quaisquer “sinais de risco.” “O objetivo de todo este processo foi gerar confiança [na população]”, sublinhou.
Numa nota divulgada entretanto, a DGS refere que "foi possível analisar novos dados disponibilizados nos últimos dias", os quais confirmam que os mais de 15 milhões de adolescentes vacinados nos EUA e na União Europeia confirmam que os episódios já reportados de miocardite e pericardite são extremamente raros e têm uma evolução clínica benigna", não sendo conhecidos "novos alertas de segurança com a utilização destas vacinas na UE nestas faixas etárias".
Na mesma linha, Luís Graça acrescentou que a vacinação dos adolescentes vai trazer-lhes “benefícios ao nível da saúde mental e do bem estar social e educacional.”
Vários outros países já estão a vacinar jovens entre os 12 e os 15 anos, tais como Canadá, Israel, Chile, Alemanha, França, Itália, Reino Unido, Áustria, Suíça, Lituânia, Roménia, Filipinas, China, Singapura, ou Hong Kong. Além disso, Espanha e Estónia já anunciaram que vão começar a fazer o mesmo a partir de setembro.
Decisão sobre necessidade da 3ª dose ainda não está tomada
Questionada pelos jornalistas sobre a situação das pessoas transsexuais atualmente a receber tratamentos hormonais, Graça Freitas sublinhou que estes cidadãos devem aconselhar-se com o seu médico assistente, no sentido de obter uma recomendação sobre que vacina e respetivo esquema vacinal deve ser administrado.
Luís Graça apontou ainda que a decisão técnica sobre a necessidade de uma eventual terceira dose para reforçar a proteção contra o vírus ainda não está tomada, e que a DGS e a Comissão Técnica de Vacinação vão continuar a "monitorizar" os dados científicos sobre esta questão. Além disso, Graça Freitas apontou que a DGS ainda está a estudar a possibilidade de acabar com o isolamento profilático de pessoas que já se encontrem vacinadas, uma norma que ainda se encontra atualmente em vigor.