A DGS anunciou esta quinta-feira em conferência de imprensa que a vacina da AstraZeneca contra a covid-19 deve ser administrada somente a pessoas com mais de 60 anos, um dia depois de os ministros da Saúde dos países da UE não terem chegado a acordo sobre que decisão tomar em relação a esta vacina. O impacto desta decisão no plano nacional de vacinação será "pequeno", garantiu o coordenador da task force, vice-almirante Gouveia e Melo.
Ainda assim, a vacinação nas escolas do pessoal docente e não docente é adiada uma semana: estava marcada para este sábado e passa agora para o seguinte. O responsável lembrou ainda que Portugal tem cerca de dois milhões de habitantes com mais de 60 anos - e por isso, apesar desta alteração, a vacina da AstraZeneca vai continuar a ser "útil" para proteger essa parte da população.
De acordo com os dados reportados ao European Center for Disease Prevention and Control, já foram administradas em Portugal 389 mil doses da vacina da AstraZeneca e estão em armazém mais de 300 mil. Grande parte destas doses iam ser utilizadas este fim de semana na vacinação de mais 200 mil professores e funcionários de creches e escolas básicas e secundárias, adiada agora para o fim de semana seguinte.
As primeiras doses da vacina produzida pela empresa anglo-sueca, em parceria com a Universidade de Oxford, chegaram a Portugal a 7 de fevereiro. Uma vez que esta vacina prevê um intervalo de três meses entre as duas tomas, por agora só foram administradas primeiras doses. Esta folga temporal permitirá esperar por mais estudos e conclusões e depois tomar uma decisão sobre a conclusão do processo de vacinação com esta vacina. Segundo Gouveia e Melo, das 8,8 milhões de doses de vacinas que vão ser recebidas no segundo trimestre, 1,4 milhões são da AstraZeneca.
Os últimos dados sobre a vacinação em Portugal indicam que 15% da população já tomou uma dose da vacina contra a covid e que 6% têm o processo completado com as duas doses.
Até agora foram registados em Portugal dois casos de eventos tromboembólicos, dos quais só um é que está associado à AstraZeneca. Nenhum desses casos resultou em morte. Estes casos podem ter uma relação com outros registados noutros países da Europa mas não são exatamente iguais, apontou Rui Ivo, Presidente do Infarmed.
A diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, pediu às pessoas que já tomaram a vacina da AstraZeneca para continuarem "tranquilas" e lembrou que "daqui a três meses vai chegar informação adicional" sobre esta vacina - e que as autoridades vão "agir em conformidade." Quanto a possíveis mudanças nos contratos celebrados entre Portugal e a empresa, Rui Ivo disse que estes não vão sofrer qualquer alteração.
Esta quarta-feira, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) reconheceu que "existe uma possível ligação entre a administração da vacina e a ocorrência de coágulos sanguíneos invulgares combinado com nível baixo de plaquetas". Por isso, explicou a EMA, este efeito indesejável deve ser incluído "no resumo das características do medicamento e folheto informativo".
Nesse sentido, a EMA alertou a população e a comunidade médica para alguns sinais de alarme nas semanas seguintes à inoculação, como falta de ar, dor no peito, inchaço nas pernas, dor abdominal persistente e sintomas neurológicos como dores de cabeça intensas e persistentes, visão turva, e ainda pequenas manchas de sangue sob a pele em locais distintos do local da injeção. Ainda assim, a autoridade europeia voltou a sublinhar que a vacina é segura e que os seus benefícios são bastantes superiores aos riscos, uma garantia que não demoveu vários países de aplicar restrições à administração da vacina.
Aliás, no âmbito da presidência portuguesa do Conselho da União Europeia, Portugal tentou obter um consenso entre os 27 países da UE que seguisse o parecer técnico da EMA, mas não foi possível chegar a um acordo: há “diferentes interpretações sobre as conclusões do relatório” da EMA, justificou a ministra da Saúde, Marta Temido.