Covid.19. Pedro Simas injeta calma sobre vacina de Oxford: “Não há nenhum problema de saúde para as pessoas”
Dado Ruvic
A Comissão de Vacinação alemã adensou, esta quinta-feira, as dúvidas relativamente à vacina desenvolvida pela farmacêutica AstraZeneca, aprovada no Reino Unido desde dezembro. A Alemanha desaconselha a inoculação em pessoas com mais de 65 anos, por considerar que os dados obtidos nos ensaios clínicos “são insuficientes”. Ao Expresso, Pedro Simas frisa que “a ciência diz-nos que a vacina é segura, a eficácia é que ainda não está perfeitamente comprovada”. Mas, para o virologista, “estamos numa fase em que todas as vacinas ajudam” e “é melhor haver alguma eficácia do que nenhuma”
Chama-se Brian Pinker, tem 82 anos e sofre de uma doença renal. Foi ele a primeira pessoa no mundo a tomar a vacina desenvolvida pela AstraZeneca contra a covid-19, aprovada a 30 de dezembro no Reino Unido. Desde então, em Terras de Sua Majestade já foram imunizados mais de 7,3 milhões de britânicos e os idosos acima dos 80 anos estão entre os prioritários. Enquanto isso, a Comissão Europeia, que tem encomendadas 300 milhões de doses da vacina de Oxford, espera pela aprovação da EMA, prevista até ao final desta semana, para dar luz verde à distribuição nos 27 estados-membros.
Contudo, tanto a Agência Europeia do Medicamento como a Comissão de Vacinação alemã mostram-se relutantes quanto à administração na população com idade superior a 65 anos, uma vez que consideram “insuficientes” os dados obtidos nos ensaios clínicos. “A vacina contra a covid-19 da AstraZeneca é atualmente recomendada unicamente para pessoas entre os 18 e os 64 anos”, informou, esta quinta-feira, a entidade germânica.
Contactado pelo Expresso, Pedro Simas começou precisamente por frisar que “a vacina está a ser utilizada no Reino Unido em pessoas com mais de 65 anos”. O virologista tranquiliza com “a inferência científica de que não há nenhum problema de saúde para as pessoas”. E esclarece: “A vacina é segura, a eficácia é que ainda não está perfeitamente comprovada”.
Mas se o Reino Unido não hesitou em dar guia de marcha à inoculação, quais são então as reservas da UE? “A Europa considera que o número de pessoas com mais de 65 anos que participaram nos ensaios clínicos é muito pequeno para permitir tirar conclusões”, explica o especialista.
Contudo, defende Pedro Simas, “o importante é vacinar os grupos de risco”, uma vez que “estamos a falar de salvar vidas humanas”. E mesmo que a solução da AstraZeneca “possa não ser tão eficaz como o desejável”, o virologista prefere ver o copo meio cheio: “é melhor haver alguma eficácia do que nenhuma”. Assim sendo, entende, “não há razão aparente para desaconselhar, trata-se de uma mera tecnalidade”.
Na opinião de Simas, “estamos numa fase em que todas as vacinas ajudam”, em que “o fundamental é vacinar e proteger as pessoas”: “foi talvez por isso que no Reino Unido abriram a exceção”.
A AstraZeneca prevê a entrega de 31 milhões de doses para a Europa já em fevereiro. “A informação que eu tenho é que os camiões já estão a sair da fábrica na Bélgica para distribuir pelos países europeus”, adianta o virologista ao Expresso.
Esta vacina é mais barata do que a da Pfizer, a primeira a ser distribuída na Europa, e mais fácil de armazenar, por requerer ‘apenas’ uma refrigeração entre os 2 e os 8 graus Celsius — a da Pfizer necessita de menos de 80ºC.