Coronavírus

Doentes covid em enfermaria podem consumir até o dobro ou triplo do oxigénio de um doente não covid

Doentes covid em enfermaria podem consumir até o dobro ou triplo do oxigénio de um doente não covid
Ana Baião

O Hospital Amadora-Sintra recorre a 17% da capacidade diária de oxigénio do tanque de 30 mil metros cúbicos. “Uma das terapias para doentes com covid-19 implica a administração de oxigénio em alto fluxo”. Enquanto um doente não covid na enfermaria recebe 10 ou 15 litros por minuto, um doente infetado com o SARS-CoV-2 é administrado com 30 litros por minuto

O Hospital Fernando Fonseca (HFF ou Amadora-Sintra), a unidade com mais doentes covid internados na região de Lisboa e Vale do Tejo, está a gastar mais 10% de oxigénio (O2) do que gastava em outubro. Mais doentes e mais doentes graves explicam a situação que está longe de ser preocupante: o HFF, por exemplo, só recorre a 17% da capacidade diária do tanque de 30 metros cúbicos de O2 (que é reposto todos os dias, tal como as botijas), garante ao Expresso fonte oficial.

Os doentes covid chegam a necessitar do dobro ou triplo de oxigénio em comparação com os outros doentes em enfermaria, explica a mesma fonte. “Foi instalada a semana passada uma nova rede de oxigénio na Torre Amadora para reforço da rede existente, uma vez que uma das terapias para doentes com covid-19 implica a administração de oxigénio em alto fluxo”. Isto é, enquanto um doente não covid recebe 10 ou 15 litros por minuto, um doente infetado com o SARS-CoV-2 é administrado com 30 litros por minuto.

Não estão disponíveis os dados de consumo de oxigénio por doente nas unidades de cuidados intensivos. Em valor absoluto esse segmento não sofreu grande alteração, pois de 22 camas em janeiro aumentou-seagora para 30. Já na enfermaria havia 74 doentes hospitalizados e agora são 251, o que por si só fez disparar o consumo daquele gás.

Teme-se que o abrupto e consistente aumento de novos casos de covid-19 que saturam os hospitais do país atualmente levem a um consumo insustentável de oxigénio. "Os hospitais compram e armazenam oxigénio em tanques enormes e em balas portáteis”, explicou na quarta-feira ao Expresso um profissional de saúde daquele hospital. “Nós tínhamos capacidade para seis dias - na realidade era um pouco mais com os tanques secundários -, mas a utilização subiu tanto que começámos a gastar as balas portáteis. Para prevenir uma situação de catástrofe, o hospital iniciou obras para ter um novo tanque porque a necessidade aumentou e muito. Espero sinceramente que não haja nenhuma calamidade por falta de oxigénio.”

Este hospital, que é abastecido por um tanque de 30 mil metros cúbicos de oxigénio e que colocou em marcha a construção de um novo tanque, gasta atualmente 4,8 milhões de litros de O2 por dia, o equivalente a 2800 litros por hora.

A fonte garante que as reservas e o fornecimento de oxigénio estão acauteladas e garantidas. Mais: não se verificou qualquer aumento do custo da aquisição de gases medicinais até ao momento.

“Além do tanque principal, existe ainda um quadro de emergência com capacidade para 5 horas de autonomia, e existe adicionalmente um stock de cilindros de O2 de cinco, 30 e 50 litros, que é reposto diariamente”, diz a mesma fonte, que dá conta da ordem recente de reforço do número diário de garrafas em stock de cinco e 30 litros.

O hospital instalou recentemente uma rede de O2 redundante na torre Amadora Ala B, assim como iniciou na quarta-feira a tal construção do novo tanque de oxigénio que funcionará em paralelo com o existente para aumentar a autonomia face ao aumento de consumo.

Nesta quinta-feira estava previsto arrancarem os trabalhos de instalação de uma rede de O2 redundante na torre Sintra Ala A. Segundo a fonte daquela unidade de saúde, será também instalado um tanque adicional de O2 para alimentar o novo serviço de urgência para doentes covid, que ficará independente da rede principal do HFF.

Na terça-feira o Expresso noticiou que o HFF, que registou um crescimento de 260% da sua capacidade de atendimento à pandemia no início do mês, bateu o recorde de unidade com mais doentes covid da região de Lisboa, totalizando 268 infetados internados e sabe-se que o limite não está asim tão longe do horizonte, razão pela qual houve a necessidade nesse dia de transferir 13 doentes para o Algarve, levando até o presidente do Conselho de Administração a enviar um email a todos os 3600 profissionais de saúde daquele hospital. "Caros Colegas, atravessamos o momento mais desafiante das nossas vidas profissionais", pode ler-se no início da comunicação, a que o Expresso teve acesso (ver AQUI o resto da carta).

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