As vacinas impedem a transmissão do vírus?
As três vacinas mais avançadas nesta fase - Pfizer, AstraZeneca e Moderna - foram bem-sucedidas nos amplos ensaios clínicos que já se realizaram, provando serem capazes de neutralizar a doença e eliminar os seus sintomas. No entanto, ainda nenhuma das três vacinas demonstrou conseguir evitar a entrada da infeção no sistema imunitário: ou seja, há a hipótese de uma pessoa vacinada não ficar doente mas ainda assim transmitir o vírus a outros que possam ser ou estar mais vulneráveis. A Pfizer já disse que tem cientistas a analisar formas de estudar a transmissibilidade da doença em futuros ensaios. A AstraZeneca e a Moderna (com a Universidade de Oxford) estão mais avançadas: testaram amiúde os participantes nos seus ensaios, verificando assim a existência de infeções assintomáticas - apesar de os resultados completos ainda não terem sido publicados, há indícios de que a vacina reduziu a frequência das infeções, reduzindo assim a transmissibilidade da doença.
Quanto tempo dura a imunidade da vacina?
Não há uma forma rápida de determinar isso e os investigadores têm de monitorizar a imunidade de perto nos próximos meses e anos. Há estudos que indicam que a imunidade ao novo coronavírus pode durar vários meses ou até anos, dado que o sistema imunitário preserva uma memória da infeção e atua mais rapidamente caso a encontre novamente - e o facto de as vacinas serem desenhadas justamente para provocar respostas fortes do sistema imunitário joga a favor da imunidade. Ainda assim, muitas das pessoas que recebam as vacinas têm de ser analisadas periodicamente para determinar os seus níveis de anticorpos e assim estabelecer-se o tempo da imunidade.
O quão bem funcionam as vacinas nos idosos e nas crianças?
Os ensaios clínicos têm envolvido dezenas de milhares de pessoas mas as conclusões sobre a eficácia das vacinas prendem-se apenas com pouco mais de 200 desses casos. Este processo não tem nada de obscuro mas leva a que seja difícil dividir os dados por grupos diferentes (pessoas idosas ou obesas, por exemplo) sem se perder margem de manobra estatística. Há indícios claros de que as três vacinas protegem pessoas acima dos 65 anos mas é preciso agrupar vários dados do “mundo real” para que os cientistas consigam determinar todos estes detalhes demográficos.
Ainda não há ensaios a decorrer em crianças e mulheres grávidas mas esta quarta-feira a Moderna anunciou que planeia começar a testar a sua vacina em crianças.
Pode o vírus evoluir e vencer a vacina?
Vírus como o da gripe são conhecidos por terem o seu genoma em constante mutação. No entanto, o genoma do SARS-CoV-2 tem permanecido bastante estável e os investigadores estão confiantes de que o vírus que causa a covid-19 não se vai conseguir adaptar e fugir à ação da vacina. Por outro lado, as maciças campanhas de vacinação vão colocar o vírus sob uma pressão para sobreviver que ainda não teve até aqui. A chave passa por vigiar e sequenciar o vírus com regularidade à procura de mudanças no seu genoma que tornem necessária o aperfeiçoamento das vacinas.
Como vão ser analisados os efeitos a longo prazo da vacina?
Dadas as circunstâncias, as três vacinas na linha da frente completaram apenas alguns meses do período de ensaios clínicos a que estariam sujeitas. Mas a saúde dos participantes nesses ensaios foi sempre monitorizada diariamente, incluindo entre a toma da primeira e da segunda dose. Antes de a vacina da Pfizer ter sido aprovada no Reino Unido, por exemplo, os pacientes que participaram no ensaio foram seguidos durante dois meses depois da toma da segunda dose da vacina - e é essa informação que permitiu à agência britânica declarar a vacina como segura. Os sistemas de saúde nacionais vão manter essa vigilância nos próximos meses quando as vacinas começaram a ser distribuídas pelos países e administradas à população.
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