O investidor e filantropo Bill Gates, cofundador da Microsoft e da Fundação Bill e Melinda Gates, alerta que a pandemia de covid-19 representa “um retrocesso gigante” em termos de saúde pública e desenvolvimento globais. Trata-se da “primeira vez que este indicador sobe desde que é seriamente medido”, sublinha em entrevista à BBC, divulgada esta terça-feira.
Um novo relatório da fundação revela que o desenvolvimento global regrediu mais de duas décadas devido à pandemia. “Regredimos cerca de 25 anos em perto de 25 semanas”, lê-se no documento. A pobreza extrema aumentou 7%, a cobertura da vacinação está a cair para níveis dos anos 1990 e os impactos económicos reforçam as desigualdades, aponta ainda o relatório.
“A pandemia reduziu a distribuição de comida, aumentou os preços dos alimentos e impediu as pessoas de se moverem em busca de oportunidades como antes faziam”, descreve o investidor.
“Preocupado” e “surpreendido” com teorias da conspiração
Bill Gates considera que há “boas notícias no plano da investigação”, uma vez que “os países ricos, particularmente os EUA, têm financiado o trabalho de muitas empresas na busca de uma vacina, em especial os ensaios dispendiosos”. No entanto, esses países não têm feito o suficiente para assegurarem que as vacinas serão disponibilizadas para todos quando estiverem prontas para distribuição, ressalva.
“Apesar de algum bom trabalho da Europa e de outros, ainda não fizemos o suficiente para apoiar essa necessidade básica”, defende, referindo-se à falta de planos para alocar dinheiro para a aquisição de vacinas pelos países pobres. “Há um enorme benefício em fazer isso, mesmo para os países ricos, que é o de assegurar que a epidemia não regressará”, lembra.
Questionado sobre a desinformação e as teorias da conspiração relativamente às vacinas, algumas em que ele próprio é visado, Bill Gates confessa-se “preocupado” e “surpreendido”. “Estou preocupado com esses rumores. Fico surpreendido ao ver-me, enquanto grande defensor das vacinas que salvam vidas, atacado quase pelo oposto”, lamenta.
“O trabalho de que mais nos orgulhamos na fundação é o número de crianças que estão hoje vivas, dezenas de milhões, por causa do aumento da cobertura da vacinação de que somos parceiros em todos os países do mundo”, conclui.
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