Coronavírus

Mais uma cura falsa e perigosa para a covid-19: o dióxido de cloro. Senado da Bolívia já a aprovou

Mais uma cura falsa e perigosa para a covid-19: o dióxido de cloro. Senado da Bolívia já a aprovou
Javier Mamani/Getty Images

As deficiências dos sistemas de saúde nalguns países levam a que a esperança se concentre em produtos "milagrosos", com efeitos que podem ser fatais

Solução Mineral Milagrosa, ou MMS. É desta forma que é conhecida uma substância tida como apta a curar doenças. O verdadeiro nome da substância é dióxido de cloro e trata-se de um desinfetante industrial. É mais um caso em que, por deficiências de um sistema de saúde e de um sistema político, uma falsa cura que pode ter efeitos perigosos e que, promovida na internet, se torna popular. Na Bolívia, uma das câmaras parlamentares já foi ao ponto de aprovar a sua utilização.

Controlado pelo Movimento Al Socialismo, do ex-presidente Evo Morales, o senado decidiu autorizar "de forma excepcional, o fabrico, comercialização, administração e uso da solução de dióxido de cloro para a prevenção e o tratamento do coronavírus", diz o anúncio oficial publicado na página do senado. "Esta determinação durará enquanto existir o risco de contágio do coronavírus e a produção da solução de dióxido de cloro estará em laboratórios públicos e privados autorizados pelo orgão regulador competente, devendo cumprir as medidas de qualidade e incluir informação que certifique a composição, dosificação, precaução e cuidados na hora de consumir".

O texto soa tranquilizador, mas a verdade é que o único cuidado razoável, segundo os cientistas, é não tomar dióxido de cloro para tratar doenças, seja o coronavírus ou outras para as quais produto já anteriormente foi usado, incluindo o autismo, a malária e o cancro.

Dez bispos defendem uso

Tanto a Organização Panamericana de Saúde como outras instituições internacionais avisam contra o uso da substância, mas isso não impediu dez bispos bolivianos de a recomendarem, na esteira do que têm feito diversos grupos religiosos. Os bispos em causa, um terço do total no país, entendem que a proibição do dióxido de cloro "não serve a saúde dos doentes, pelo contrário, prejudica-a, ao impedir o uso de medicinas alternativas".

O governo, controlado pela direita, opõe-se à utilização do dióxido de cloro. A Agência Estatal de Medicamentos e Tecnologias de Saúde tem alertado expressamente para os riscos. Mas os poderes de veto da presidente interina do país, Jeanine Áñez, são limitados. Mesmo que a câmara baixa acabe por não aprovar a lei ou que, por qualquer outro motivo, a legislação não entre em vigor, é muito provável que o mal esteja feito. Num país onde existe uma forte tradição de automedicação, a sanção oficial dada pela aprovação no senado não deixará de ter efeitos.

Segundo a Food and Drug Administration norte-americana, citada pelo jornal "Guardian", a utilização de dióxido de cloro pode levar a "vómitos graves, diarreia grave, tensão baixa com risco de vida provocada por desidratação e insuficiência hepática aguda".

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

Comentários

Assine e junte-se ao novo fórum de comentários

Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes

Já é Assinante?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate
+ Vistas