Coronavírus

Covid-19. Estudo serológico em Almeirim identificou anticorpos em 3,88% da população

Covid-19. Estudo serológico em Almeirim identificou anticorpos em 3,88% da população
Radoslav Zilinsky / Getty Images

Das 270 pessoas testadas, 12 tiveram contacto com o vírus mas nenhuma sabia. Entre os profissionais que estiveram na primeira linha de combate ao vírus, apenas 1% desenvolveu anticorpos. Resultados surpreenderam cientistas

O estudo serológico realizado no concelho de Almeirim, em Santarém, concluiu que 3,88% da população desenvolveu anticorpos ao novo coronavírus, apesar de a maioria não ter apresentado qualquer tipo de sintomas. Ou seja, das 270 pessoas que foram testadas, 12 tinham anticorpos e dessas apenas duas tinham tido alguns sintomas aos quais não deram importância. O estudo divulgado esta sexta-feira, que decorreu entre 23 de maio e 4 de julho, foi realizado pela autarquia em colaboração com o agrupamento de centros de saúde e o Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC).

Além de ter sido testada uma amostra aleatória da população, o estudo serológico analisou ainda 200 profissionais que estiveram na linha da frente durante os últimos meses, incluindo médicos, enfermeiros e auxiliares, além de funcionários da proteção civil, polícia e limpeza municipal. Das 200 pessoas testadas, apenas 1% teve contacto com o vírus e desenvolveu anticorpos, o que "sugere que a implementação de medidas de proteção pessoal dos profissionais foi bem-sucedida", segundo o IGC.

"Estávamos à espera de uma taxa mais alta entre os profissionais de primeira linha e uma taxa mais baixa entre a população em geral. Os 3,88% estão muito mais acima daquilo que esperávamos e do que têm sido os resultados de outros estudos semelhantes", aponta ao Expresso Carlos Penha Gonçalves, investigador principal do Instituto Gulbenkian de Ciência envolvido na realização do estudo.

"Em todo o concelho foram infetadas 35 pessoas, confirmadas por teste. Isso corresponde a 0,15% da população. Portanto, esta percentagem de 3,88% é mais de 25 vezes superior ao que tinha sido diagnosticado", acrescenta o investigador. Uma das explicações possíveis para essa taxa mais elevada é o facto de os primeiros casos em Almeirim terem surgido muito cedo, ainda na primeira semana de março, numa fase em que a informação sobre o vírus e a proteção necessária ainda não era totalmente conhecida.

É de notar que este estudo faz um pequeno acerto na taxa de prevalência real, tendo em conta a especificidade do teste, isto é, a margem de falsos positivos. Apesar de os 12 casos com anticorpos identificados pelos testes corresponderem a 4,4% do total de 270 pessoas, a prevalência real corrigida é de 3,88%, como explica Carlos Penha Gonçalves.

A importância dos testes serológicos

Os resultados agora conhecidos, como aponta o investigador do IGC, reforçam a importância de conduzir estudos serológicos para a definição de medidas precisas de contenção e resposta à pandemia. Mais importante ainda sabendo-se hoje que só os testes serológicos permitem ter ideia da dimensão dos assintomáticos. Não conhecer a dimensão real da transmissão do vírus nos últimos meses dificulta a elaboração de planos e projeções sobre novos surtos ou novos aumentos significativos de infeções.

O presidente da Câmara de Almeirim concorda. "Só podemos atuar estrategicamente se conhecermos a realidade da nossa população. A colaboração entre as diferentes estruturas é fundamental na resposta tática e preventiva para minimizar os efeitos da atual pandemia”, afirma Pedro Ribeiro, citado no comunicado do IGC.

O estudo revelou ainda que em cerca de um terço das pessoas que se encontravam em vigilância ativa foram detetados anticorpos para o vírus, sem que tivesse sido previamente detetada infeção viral.

Os testes serológicos utilizados neste estudo foram desenvolvidos pelo consórcio Serology4COVID, liderado pelo IGC, que conta com o ITQB NOVA, o iBET (Instituto de Biologia Experimental e Tecnológica), o iMM (Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes) e o CEDOC-NMS (Centro de Estudos de Doenças Crónicas da NOVA Medical School), e que foi financiado pela autarquia de Oeiras, a Fundação Calouste Gulbenkian e a Sociedade Francisco Manuel dos Santos.

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