“Podemos informar que existe stock disponível de remdesivir, de acordo com as alocações que têm vindo a ser feitas ao nosso país, constituindo uma primeira reserva que garante o acesso imediato ao medicamento”. O atestado é dado pelo Infarmed que, “após contacto com o laboratório titular do medicamento, este confirma que antecipa que não venha a existir qualquer constrangimento no acesso ao tratamento por parte dos doentes portugueses” de covid-19.
A reação da Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde surge depois de, esta segunda-feira, os Estados Unidos terem comprado, à empresa Gilead Sciences, 100% do stock de remdesivir para julho e 90% das reservas do antiviral para os meses de agosto e setembro.
O departamento de saúde dos EUA anunciou, através de um comunicado oficial, ter assegurado “mais de 500 mil ciclos de tratamento do medicamento para hospitais americanos até setembro”. Cada ciclo equivale, em média, a 6,25 ampolas do antivírico, desenvolvido em 2009 para combater o ébola e recomendado para pessoas com idade superior a 12 anos.
O fármaco foi, no entanto, o primeiro a obter a recomendação da Agência Europeia do Medicamento e da congénere norte-americana, a FDA. Ainda antes da EMA ter dado luz verde à utilização em doentes de covid-19, que necessitem de receber oxigénio, o remdesivir já era administrado em Portugal perante estágios mais agudos de infeção pelo novo coronavírus.
“Este medicamento esteve sempre disponível em Portugal, mesmo antes de ter a referida autorização condicional, através de pedidos de Autorização de Utilização Excecional, assim os médicos assistentes o entendessem. Todos os pedidos de acesso ao medicamento pelos hospitais nacionais foram concedidos”, refere o comunicado do Infarmed.
As investigações revelaram que o remdesivir — com um custo superior a 2.000 euros por paciente — acelera a recuperação de casos graves de covid-19, detetando o genoma viral e bloqueando a proteína que multiplica as cópias do vírus.
A Organização Mundial de Saúde (OMS), referiu esta quarta-feira, através do diretor do programa de emergências, Mike Ryan, estar “totalmente comprometida, como organização, em garantir um acesso equitativo a intervenções que salvem vidas”.
As críticas alastraram um pouco por todo o mundo, relativamente à investida do executivo de Donald Trump, numa caça desenfreada ao medicamento. Além da ação unilateral furtiva e do preço do remdesivir, é também alvo de contestação o comportamento da fabricante americana Gilead, uma vez que, para obter a aprovação das entidades de saúde globais, foram testados pacientes de todo o mundo.
“Companhias privadas são construídas para se comportarem dessa forma e precisamos de um arcabouço sólido se queremos desenvolver soluções usadas em emergências nacionais”, adverte Peter Horby, professor da Universidade de Oxford, citado pela BBC, avisando que esta corrida descontrolada pode acontecer também quando surgir uma vacina eficaz para a covid-19.
Também do Reino Unido surge, no entanto, uma mensagem mais tranquilizante, por parte do subdiretor-geral da Saúde, salvaguardando que o país possui as “provisões adequadas” de remdesivir.
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