Abril de 2020 registou uma quebra significativa na recolha dos resíduos de plástico/metal e de papel/cartão na região de Lisboa, quando comparada com o mesmo mês de 2019. A recolha destes dois tipos de resíduos caiu 58% e 58,5%, respetivamente, de acordo com os dados da Valorsul, a que o Expresso teve acesso.
Os números dizem respeito à região de Lisboa (que inclui os municípios da Amadora, de Loures, de Odivelas e de Vila Franca de Xira) mas o principal contribuinte para este decréscimo acentuado na recolha seletiva é a realidade de Lisboa. A justificar estes números está uma menor produção de resíduos (uma redução de 900 para 600 toneladas diárias de lixo recolhido), devido ao quase desaparecimento dos turistas, e ao fecho de restaurantes, bares, lojas e outros serviços decretados pela pandemia. Mas também (e sobretudo) ao facto de a Câmara de Lisboa ter decidido suspender a recolha porta-a-porta dos resíduos recicláveis - que se estendia a 65% da cidade.
A justificar esta decisão esteve "a necessidade de garantir a proteção da saúde pública e dos trabalhadores envolvidos nas operações de recolha e tratamento de resíduos e, em simultâneo, controlar os fatores de disseminação da doença e contágio por covid-19”, esclarece Filipa Penedos. A diretora do departamento de Higiene Urbana da Câmara diz que “a prioridade foi a saúde das pessoas”.
A autarquia viu-se na contingência de "evitar a aglomeração de equipas nos balneários", desfasando turnos de modo a manter a distância social e ter gente na reserva, seguindo as recomendações da Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR).
Para contornar estes obstáculos estão a fazer obras nos balneários usados pelo pessoal da higiene urbana e Filipa Penedos espera que "a partir de 1 de junho estejam reunidas todas as condições de segurança" para retomarem a recolha porta-a-porta de plástico, vidro e papel. O objetivo é recuperar as quebras de reciclagem e enfrentar a nova "pandemia de descartáveis" que se avizinha.
O fecho de restaurantes, bares, cafés, lojas e outros serviços, e a quase inexistência de turistas, também contribuíram para estas quebras, sobretudo visíveis na redução da quantidade de embalagens de vidro colocadas nos vidrões (menos 27,8%) ou na de biorresíduos (menos 88%) que provinham sobretudo das cantinas e da restauração.
Cresce recolha para valorização no Oeste
Ao contrário do que se verificou em Lisboa, nos outros 14 municípios da região Oeste onde a Valorsul é a empresa responsável pelo tratamento e valorização dos resíduos sólidos urbanos (Alcobaça, Alenquer, Arruda dos Vinhos, Azambuja, Bombarral, Cadaval, Caldas da Rainha, Lourinhã, Nazaré, Óbidos, Odivelas, Peniche, Rio Maior, Sobral de Monte Agraço e Torres Vedras) houve um crescimento na recolha de resíduos seletivos para reciclagem ou valorização — mais 12,5% no vidro; mais 5,9% no papel/cartão; e mais 23,4% nas embalagens de plástico e metal.
“Estes crescimentos na região Oeste estão relacionados sobretudo com o aumento da rede de ecopontos feito no último ano e não necessariamente com a pandemia”, explica Joana Xavier, porta-voz da Valorsul. “O facto de não ter sido interrompido qualquer serviço de recolha na região Oeste também permitiu uma maior estabilidade nas quantidades recolhidas nos ecopontos.” Isto apesar de o total de resíduos recolhidos (entre indiferenciados e seletivos) ter caído 9,7% relativamente a abril de 2019.
Quebra ligeira na recolha de resíduos no país
Olhando para os dados alargados do universo da empresa EGF — que controla quase dois terços dos resíduos urbanos produzidos no país, entre os quais os da Valorsul — verifica-se um decréscimo pequeno comparando o mês de abril de 2020 e o de 2019. Os fluxos de vidro e de papel caíram 4% e 9% respetivamente. Porém, no de plástico houve um crescimento de 2%, o que se deve ao facto de as pessoas estarem mais em casa, irem mais ao supermercado e fazerem a separação do lixo que produzem.
Já olhando para os números do primeiro trimestre de 2020 e de 2019, os dados da empresa do grupo Mota-Engil (que trata o lixo doméstico de 174 municípios) indicam que houve um ligeiro decréscimo na recolha de lixo comum e um aumento de 16% na recolha seletiva (trifluxo) em março face ao período homólogo.
Segundo a porta-voz da empresa, Ana Loureiro, “os centros de reciclagem nunca pararam, apesar de alguns dos fluxos terem de ficar de quarentena durante um certo período”. E apela para que as pessoas continuem a fazer a separação dos resíduos e que tenham em atenção que as máscaras, as luvas ou os lenços descartáveis são para serem colocados no lixo indiferenciado e não nos ecopontos.