Coronavírus

De Matosinhos para Nova Iorque: um negócio de papel que resiste à covid-19

O Whitney Museum é um dos mais recentes clientes da portuguesa Mishmash.
O Whitney Museum é um dos mais recentes clientes da portuguesa Mishmash.
D.R.

A Mishmash é uma pequena empresa que desenha e produz cadernos e material de escritório. A fundadora, Beatriz Barros, conta ao Expresso porque não está assustada com a crise que chegou com a pandemia

De Matosinhos para Nova Iorque: um negócio de papel que resiste à covid-19

Miguel Prado

Editor de Economia

"Está a ser uma adaptação engraçada, se é que o posso dizer. Neste momento os nossos envios não estão a ser afetados." Beatriz Barros, 28 anos, fundou há quatro anos a Mishmash, uma pequena empresa que vive da criatividade para produzir cadernos e outros materiais de escritório em séries limitadas. A empresa, com escritório em Matosinhos, acaba de fazer negócio com o Whitney Museum of American Art, de Nova Iorque, e não ficará por aqui.

É literalmente um negócio de papel, que parece preservar uma capa de imunidade ao vírus que está a provocar uma crise histórica à escala global. "A nossa produção não está parada", conta Beatriz Barros, revelando ainda ao Expresso que a sua pequena empresa está já a trabalhar em dois outros projetos para fornecer cadernos a um novo museu em Nova Orleães e a uma livraria em Brooklyn, Nova Iorque.

"Há alguma alteração dos prazos, mas estamos confiantes de que os projetos não vão ser cancelados, apenas adiados. Notamos nos Estados Unidos que já se está a pensar no futuro e na necessidade das pessoas de voltarem a visitar museus e livrarias. E por isso os museus estão a querer reforçar-se agora", descreve a designer e empreendedora.

Beatriz Barros está ciente das dificuldades de gerir um pequeno negócio, mas mantém um discurso otimista. "O design é uma forma de solucionar as coisas."

Beatriz tem 70% da empresa que fundou. Os restantes 30% pertencem à Significa, uma agência de produtos digitais que irá ajudar a Mishmash a renovar o seu site, onde parte da faturação é gerada, com as vendas diretas ao cliente final.

É uma microempresa. No ano passado eram quatro pessoas, agora são duas, Beatriz e a colega Joana Moreira, que conheceu quando esta estagiou num estúdio de design. O fabrico dos produtos é contratado a fábricas na região do Porto, assim como outros serviços.

A redução da estrutura serviu para baixar os custos da Mishmash, que se confrontou em 2019 com uma quebra significativa da faturação, em grande medida provocada pelo Brexit e pela falência de um seu distribuidor no Reino Unido, onde vendia os seus produtos em lojas como a Selfridges.

Depois de em 2018 ter faturado 218 mil euros, em 2019 caiu para 150 mil euros de vendas. É este volume de negócios que Beatriz espera manter em 2020, mas agora com resultados líquidos positivos. "Em janeiro deste ano já tínhamos a casa arrumada", explica.

Beatriz Barros diz notar maior procura dos consumidores portugueses, talvez motivada pela notoriedade internacional da Mishmash. "Ao quarto ano da marca sentimos que começa a haver maior interesse em Portugal."

A Mishmash é uma marca de estacionário de nicho. Além das vendas online, distribui os seus produtos em algumas lojas. Não vende ainda nas maiores lojas do país. Já houve alguns contactos exploratórios com a Fnac, sem sucesso, mas é um canal onde Beatriz gostaria de colocar os produtos da sua empresa.

Talvez o próximo salto nas vendas aconteça dentro de portas. Mas para já é com clientes internacionais que a Mishmash vai escrevendo a sua história. Tal como sucedeu quando, em 2018, se estreou em Nova Iorque, fornecendo uma edição especial de cadernos ao museu Guggenheim. São pequenas séries, de 500 a 1000 unidades, mas suficientemente relevantes para deixar uma marca lá fora. Made in Portugal.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: mprado@expresso.impresa.pt

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