Coronavírus

Grupos hospitalares privados oferecem ajuda (e camas) contra o coronavírus 

Grupos hospitalares privados oferecem ajuda (e camas) contra o coronavírus 
Nuno Botelho

Os privados do sector da saúde reúnem-se com a DGS na 3º-feira para oferecer ajuda ao SNS. Estes últimos dias têm sido de azáfama com grandes alterações nas suas unidades para uma melhor resposta ao surto do Covid-19. Há fecho de urgências, concentração de recursos humanos e técnicos nos hospitais de Lisboa, bem como o cancelamento de consultas e de outros atos que não sejam urgentes. E há disponibilidade para acolherem doentes infetados no internamento, assim isso lhes seja pedido pelo Estado

Grupos hospitalares privados oferecem ajuda (e camas) contra o coronavírus 

Isabel Vicente

Jornalista

Tal como o sistema de saúde público, também os grupos hospitalares privados estão numa corrida para se preparem o melhor possível para o impacto do coronavírus nas suas unidades. No Reino Unido, segundo noticia o The Guardian, houve um acordo “sem precedentes” entre os sectores privado e público para juntos combaterem a disseminação da doença, já que as autoridades temem que rapidamente se esgote a capacidade das unidades do National Health Service.

Além de se disponibilizarem para internar doentes infetados com o novo coronavírus, os maiores prestadores estão a adotar medidas para acautelarem, no imediato, os cuidados de saúde aos seus utentes perante esta pandemia, nomeadamente aos grupos mais vulneráveis perante o Covid-19, como doentes crónicos e oncológicos ou grávidas.

Para já, no que se refere à articulação com o Estado, as unidades privadas estão a encaminhar para os hospitais públicos de referência os casos suspeitos de serem portadores do vírus. E, até esses doentes serem transferidos, devem ficar em unidades específicas de isolamento. Entretanto, a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, já fez saber que foi feito um apelo aos sectores privado, social e militar para saber a quantidade de ventiladores que têm.

Os dois maiores grupos privados, José de Mello Saúde (unidades Cuf) e Luz Saúde, têm em marcha várias medidas, como o reforço nas unidades que se antecipam mais críticas em termos de procura por causa coronavírus e o condicionamento de cuidados que não sejam urgentes.

No caso da CUF, um comunicado interno a que o Expresso teve acesso, dá conta de uma reorganização dos serviços para responder de forma mais eficaz ao crescimento previsto da afluência de casos suspeitos de Covid-19 às suas unidades.

As equipas mantêm-se as mesmas, mas os recursos humanos estão a ser centralizados nos hospitais onde a José de Mello Saúde antecipa uma maior afluência. As medidas que estão a ser adotadas já entraram em vigor e preveem reforçar com meios humanos e técnicos na região metropolitana de Lisboa, “atendendo ao crescimento previsto da afluência de casos suspeitos Covid-19”. Assim, o Atendimento Permanente (serviços de urgência) a doentes adultos será centralizado nos Hospitais CUF Descobertas, CUF Infante Santo e CUF Cascais.

Além disso, “por este motivo, e também como forma de assegurar uma maior segregação dos doentes adultos e doentes pediátricos, a Clínica CUF Almada e o Hospital CUF Sintra irão encerrar temporariamente o respetivo atendimento médico não programado de adultos, mantendo-se em funcionamento o respetivo atendimento médico não programado de pediatria”.

E para garantir a capacidade de resposta necessária no Hospital CUF Cascais, o atendimento permanente pediátrico será transferido temporariamente para o Hospital CUF Sintra. Da mesma forma, a consulta não programada de pediatria do Hospital CUF Infante Santo será temporariamente encerrada.

Estas medidas, que resultam da “evolução do surto por Covid-19”, são tomadas, frisa o grupo liderado por Salvador de Mello, “em nome da segurança e da proteção de colaboradores e doentes, e por forma a garantir uma resposta cada vez mais eficaz às necessidades atuais”.

Aliviar os hospitais dos atos não urgentes

Por sua vez, a Luz Saúde está a condicionar “a atividade eletiva não urgente nos seus hospitais, isto é, consultas, exames e cirurgias programadas”. “A pandemia pelo SARS CoV-2 (Covid-19) obrigou a sociedade e os prestadores de cuidados de saúde, em particular, a repensar comportamentos e atitudes”, diz o comunicado disponível no site do grupo de saúde controlado pela seguradora Fidelidade.

Trata-se de uma medida “conter a propagação da doença, designadamente evitando a concentração de pessoas em salas de espera e em circulação pelos nossos hospitais e clínicas”. E ao mesmo tempo “assegurar que os doentes seguidos na rede Hospital da Luz mantêm a resposta de que precisam ao nível de tratamentos oncológicos, vigilância das suas doenças crónicas, diagnósticos urgentes para doenças graves, entre outros”.

Assim, “os pedidos para marcação de novas consultas e exames devem ser efetuados preferencialmente através do site hospitaldaluz.pt ou da app MY LUZ”. E estes pedidos serão alvo da avaliação pelos médicos que acompanham os doentes por forma a identificarem, caso a caso, quais são os atos de devem ser marcados, quais devem ser adiados e que podem ser prestados por vídeo-consulta.

A Luz Saúde refere ainda que manterá em funcionamento “os recursos necessários para garantir, em segurança, o atendimento a grávidas (seguimento e parto), doentes oncológicos, doentes crónicos, reavaliação pós-operatória, cirurgias urgentes e cirurgias eletivas com caráter prioritário, entre outros exames, consultas ou tratamentos inadiáveis, de acordo com critérios de avaliação de prioridade estritamente clínicos”.

O grupo liderado por Isabel Vaz salienta que “atualmente, as unidades do Grupo Luz Saúde não estão classificadas pelo Ministério da Saúde como hospitais de referência para o diagnóstico e tratamento da Covid-19, pelo que todos os cidadãos com suspeita ou confirmação de infeção pelo SARS CoV-2 (Covid-19) devem consultar o site dgs.pt e cumprir as instruções aí expressas”.

Privados e DGS articulam-se

Está agendada para a próxima terça-feira, dia 17, uma reunião entre a Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP) e a Direção-Geral de Saúde (DGS) por causa da crise do coronavírus. O objetivo é “partilhar os protocolos de gestão de risco e para continuar a haver uma relação correta entre os procedimentos das diversas instituições”, avança ao Expresso Óscar Gaspar, presidente da APHP.

O Expresso apurou junto de fontes do sector que a possibilidade dos privados internarem casos de infeção com o Covid-19 também estará em cima da mesa.

A este respeito, a Lusíadas Saúde refere ao Expresso que “está totalmente alinhada com as autoridades da saúde, respeitando integralmente as normas orientadoras até aqui divulgadas por parte da DGS”, lembrando que “tratando-se de um tema de saúde pública, os casos específicos de Covid-19 são geridos pelo SNS”. “Não obstante, a Lusíadas Saúde, em total alinhamento com a APHP, tem feito um trabalho de preparação das equipas e das próprias unidades, para podermos ajudar o sistema de saúde no caso das autoridades requisitarem o nosso envolvimento nos cuidados de saúde à população portuguesa”, acrescenta fonte oficial do grupo liderado por Vasco Antunes Pereira.

Do lado da Luz Saúde, fonte oficial da Fidelidade faz notar que “a batalha contra o coronavírus é uma batalha de todos nós” e que a companhia “já teve oportunidade de manifestar a sua total disponibilidade para estudar, com a DGS, a possibilidade de estabelecer protocolos assistenciais com o SNS, envolvendo nomeadamente as plataformas de assistência e os hospitais do grupo”.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: ASSantos@expresso.impresa.pt

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