Na manhã de domingo, circulavam imagens nas redes sociais que pareciam estar na base de um movimento solidário entre vizinhos. Pessoas mais novas e, portanto, menos vulneráveis, afixaram nas escadas dos seus edifícios bilhetes, escritos à mão, onde se oferecem para ir buscar mantimentos aos vizinhos mais velhos e, portanto, mais vulneráveis.
Mas o movimento não se fica por pequenos atos isolados. Na rede social Instagram, a página “Vizinho Amigo” alcançou os 5000 seguidores em apenas dois dias. Na descrição pode ler-se que são “jovens que não conseguem ficar indiferentes ao facto de os idosos correrem riscos devido ao Covid-19”. O objetivo de quem a fundou é ajudar as pessoas mais vulneráveis durante a quarentena. Ir às compras, ir à farmácia, passear o cão... A iniciativa nasceu em Lisboa na passada sexta-feira à tarde. Martim Ferreira, 20 anos, um dos fundadores, diz que, desde então, “já receberam 1700 inscrições de voluntários”, a partir de um formulário que disponibilizaram online. “O objetivo é dar ferramentas a quem quer ajudar. Quem se inscreve recebe um e-mail com diretrizes sobre como agir em segurança, bem como um panfleto que pode preencher com os seus dados e distribuir pela sua zona de ação”, explica Martim. “Neste momento, estamos a tentar criar parcerias com as juntas de freguesia e as câmaras municipais. Eles podem ajudar-nos com recursos e nós podemos ajudar com a nossa base de dados, que contém os contactos dos voluntários”. O grupo tem neste momento uma parceira com a Bite My Lunch, uma empresa de merendas saudáveis que se apoia agora nestes jovens para fazer chegar mantimentos às pessoas mais vulneráveis.
Mas não é só na capital que os jovens se estão a mobilizar. Na ilha da Madeira também já há um movimento. “Tivemos a ideia na sexta-feira à noite. Éramos seis. Entretanto, criámos a página no Facebook e temos recebido muito apoio. Na última hora, já se voluntariaram mais 12 pessoas”. As palavras são de Bernardo Arede, um dos jovens do Funchal que fundou a iniciativa CoFIQ em Casa. A ideia é simples: ir às compras, ir à farmácia, passear o cão e fazer tudo o que seja preciso para ajudar os grupos estabelecidos pela Direção-Geral de Saúde (DGS) como sendo de risco, tal como os idosos, por exemplo. Até agora, ainda não receberam pedidos, mas já “estão prontos para entrar em ação”, diz Bernardo.
Em Santo Amaro, Sousel, também há um grupo de voluntários que está a colaborar com a Junta de Freguesia, reporta a publicação regional O Digital. Até agora, a prioridade dos voluntários tem sido divulgar informação pela população. O grupo está a distribuir porta a porta um aviso com as instruções da DGS para fazer face à pandemia.
Há voluntários a mobilizarem-se um pouco por toda a Europa, principalmente nos países mais afetados, como Espanha e Itália. Em Inglaterra, o movimento está a ganhar grande expressão, conforme noticia o jornal The Guardian. Já foram registados 174 movimentos de “ajuda mútua”. Estão a ser coordenados a nível nacional pela plataforma “Covid-19 Mutual Aid UK”. Propõem-se, tal como os grupos portugueses, a fazer tudo o que for preciso para ajudar as pessoas mais vulneráveis durante o isolamento. Anna Vickerstaff, uma das coordenadoras do movimento a nível nacional, diz que “com o Sistema Nacional de Saúde a ser subfinanciado há mais de uma década, a nossa esperança é oferecer ajuda para que ninguém acabe a sofrer sozinho(a) em casa”.
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