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Ciência

A molécula ‘portuguesa’ que pode vir a salvar vidas no combate ao cancro

Paula Videira e Nuno Prego Ramos, fundadores da CellmAbs, no laboratório da NOVA FCT, onde começou a investigação
Paula Videira e Nuno Prego Ramos, fundadores da CellmAbs, no laboratório da NOVA FCT, onde começou a investigação

Biotecnológica nacional vendeu por “centenas de milhões de euros” patentes de uma terapia com potencial para revolucionar o tratamento do cancro. Caberá à alemã BioNTech desenvolver os estudos clínicos que poderão fazer com que, dentro de cinco anos, esta técnica possa ser usada em doentes

Não é um colar vulgar o que Paula Videira traz ao pescoço. Presa no fio pratea­do, não tem uma medalha, um coração ou uma cruz, mas o símbolo de uma descoberta que pode revolucio­nar o combate ao cancro. Aparentemente abstrata, a pequena figura representa um anticorpo monoclonal, um tipo de molécula fabricada em laboratório, a partir de células vivas, e que é usada em alguns tratamentos oncológicos. Nos últimos anos foram desenvolvidos inúmeros anticorpos monoclonais (mAb), mas nenhum com o potencial daquele que a investigadora da Unidade de Ciên­cias Biomoleculares Aplicadas da NOVA FCT ajudou a criar e que poderá vir a erradicar 80% dos tumores sólidos, independentemente do seu estádio. A descoberta, desenvolvida pela biotecnológica portuguesa CellmAbs, foi reconhecida pela alemã BioNTech, que este mês comprou as patentes relacionadas com esta inovação, num negócio de “centenas de milhões de euros” — o maior de sempre na área das ciências da vida envolvendo uma empresa nacional.

Introduzida no organismo, a molécula com ‘assinatura portuguesa’ tem a capacidade de atingir com precisão um alvo muito específico: um biomarcador que se encontra na grande maioria dos tumores sólidos, sejam primários ou metastáticos, e que não existe nas células saudáveis. Desse modo, “é possível direcionar o tratamento exclusivamente para as células cancerígenas, poupando as outras”, ao contrário do que acontece na quimio e radioterapia, explica ao Expresso a investigadora, de 51 anos. Este biomarcador, que desempenha um papel importante na progressão do tumor e na inibição do sistema imunitário dos doentes, já tinha sido identificado pela ciência há vários anos, mas é uma estrutura tão pequena que até agora todas as tentativas feitas para desenvolver anticorpos monoclonais que conseguissem atingi-la tinham falhado.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: JBastos@expresso.impresa.pt

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