Abusos

Investigadoras deixam anonimato e contam que sofreram assédio de Boaventura de Sousa Santos

Investigadoras deixam anonimato e contam que sofreram assédio de Boaventura de Sousa Santos
Matheus Pigozzi/Agência Pública

Sete mulheres do coletivo de vítimas do professor relatam suas histórias pela primeira vez; em nota de assessoria, ele nega

Mariama Correia, da Agência Pública

Foram quatro horas e meia de conversa. Mulheres de vários países se reuniram numa videoconferência e quebraram anos de silêncio. Esta é a primeira vez que as investigadoras, reunidas num coletivo internacional, relatam publicamente violências e assédios que teriam sofrido de Boaventura de Sousa Santos. Até agora, elas mantinham as identidades e histórias em sigilo.

Sete integrantes do coletivo, formado por 14 mulheres ao todo, aceitaram participar da entrevista exclusiva com a Agência Pública: Carla Paiva, Eva García Chueca, Gabriela Rocha, Aline Mendonça, Mariana Cabello, Élida Lauris e Sara Araújo. Os seus relatos envolvem denúncias de assédio sexual e moral, abuso de poder, violência verbal e extrativismo intelectual – ou seja, uso do trabalho das pesquisadoras sem reconhecimento de autoria nem remuneração. Os casos relatados teriam ocorrido quando elas estudavam ou trabalhavam no Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, que foi dirigido pelo professor e sociólogo de renome internacional por muitos anos.

Os relatos descrevem também um ambiente tóxico, de medo e silenciamento dentro do CES. As pesquisadoras dizem que os comportamentos impróprios do professor eram normalizados e até abafados dentro do centro académico.

Denúncias contra Boaventura começaram há um ano

As primeiras acusações contra o sociólogo, que tem livros publicados em vários países, vieram à tona em março de 2023, no capítulo de um livro com relatos de assédio sexual e moral. O texto protegia a identidade das denunciantes e não citava nominalmente Boaventura, chamado apenas de “professor-estrela”.


Foi o próprio Boaventura que assumiu ser o “professor-estrela” e classificou as denúncias como “vingança”. Em abril de 2023, a Pública revelou, com exclusividade, a história da deputada federal Bella Gonçalves (PSOL-MG), que contou ter sofrido assédio sexual do professor quando foi orientanda de doutoramento. Em abril do ano passado, o professor português e o pesquisador, que foi seu assistente, Bruno Sena Martins, se afastaram voluntariamente das atividades no CES. O centro académico também constituiu uma comissão independente para investigar as acusações.

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