A morte de Odair Moniz, baleado por um agente da PSP durante uma operação policial no bairro da Cova da Moura, foi o gatilho para uma onda de tumultos em Lisboa e gerou um amplo debate sobre assimetrias sociais estruturantes que deixam muitos à margem de uma vida digna ou de uma cidadania plena. Guetização, racismo, desemprego, baixa escolaridade, falta de investimento em políticas de inclusão social. Todos os fatores foram pesados para tentar encontrar as razões para, de repente, a situação se ter inflamado e descontrolado na capital.
E no Porto? Será que tal cenário pode alastrar também à Invicta? Foi isso que o Expresso quis perceber com José António Pinto. Institucionalmente, ou quando se aprontam para lhe pedir alguma coisa, tratam-no com paninhos quentes por Dr. Pinto. Mas é por “Chalana” que toda a gente o conhece. “Eu não tinha jeito nenhum para jogar futebol. Tropeçava na bola e caía. Os meus amigos, na tanga, começaram a dizer que eu parecia o Chalana. É carinhoso”, conta, entre risos, o assistente social da Junta de Freguesia de Campanhã.
Nascido em Felgueiras, há 59 anos, é nos terrenos mais complicados do Porto – como o Bairro da Lagarteiro – que o franzino “Chalana”, sempre coladinho politicamente à ala esquerda, faz a diferença e interfere positivamente no resultado de muitas vidas. Em 2013, o seu trabalho no campo foi reconhecido e recebeu na Assembleia da República a medalha de ouro do Prémio Direitos Humanos. Deixou-a lá ficar. Não a quis para nada. “Naquele dia fui mais conhecido do que o Tino de Rans”, recorda.
O sonho de “Chalana” é ser o “pai” de uma transição cívica que dê o último passe para uma luta “coletiva, organizada e ideológica” no Porto. Essa seria a maior vitória deste sociólogo e palhaço em contexto hospitalar.
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