Direção do BE nega "crise identitária", críticos lamentam confusão com Livre e PS
As posições foram tomadas na 5.ª Conferência Nacional do Bloco de Esquerda, que decorre este fim de semana no Porto
As posições foram tomadas na 5.ª Conferência Nacional do Bloco de Esquerda, que decorre este fim de semana no Porto
A direção do BE defendeu este sábado um partido "enraizado na luta popular" e propôs-se a corrigir erros, mas negou qualquer "crise identitária" perante alguns críticos que lamentaram que o partido por vezes "se confunda com Livre e PS".
Estas posições foram manifestadas na 5.ª Conferência Nacional do BE, que decorre hoje e domingo, no Porto, na fase de apresentação do documento global estratégico da comissão política (direção alargada) e da proposta alternativa subscrita por vários elementos que integravam a lista de Mariana Mortágua à mesa nacional do partido na última convenção.
A deputada e dirigente do secretariado do BE, Joana Mortágua, começou por reconhecer que o partido cometeu erros que quer corrigir.
Defendendo um "partido enraizado na luta popular, aberto e democrático" e assegurou que a direção pretende "jogar mão a todos os instrumentos de atualização programática, de formação política da militância e de comunicação interna".
Em resposta a algumas críticas internas, Joana Mortágua advogou que causas sociais como o feminismo ou o antirracismo ajudaram a derrotas eleitorais como as de Jair Bolsonaro ou Donald Trump, deixando uma questão no ar.
"Nessas vitórias democráticas, pergunto-vos, camaradas, a classe trabalhadora ganhou ou perdeu espaço na luta pelo socialismo? Sim, nós temos que saber fazer alianças. Precisamos de alianças, não para conciliar, mas para polarizar. Afirmar isto não é uma expressão de qualquer crise identitária, é a prova de que não andamos perdidos, de que sabemos exatamente onde estamos", garantiu.
Joana Mortágua deu como exemplo os acontecimentos desta semana na Grande Lisboa, após a morte de Odair Moniz, baleado pela polícia na Amadora, afirmando que o Bloco ficou "sozinho na posição mais difícil", mas não "arredou pé da aliança com o movimento antirracista".
De seguida, colou o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, a extremismos.
"A rampa deslizante da direita para o extremismo precisa de curto-circuitos, castigo popular para abrir caminhos que a esquerda possa percorrer. Derrotar Carlos Moedas em Lisboa é isso mesmo, é derrotar Moedas com um programa de esquerda é ir ao combate ideológico contra a direita e a extrema-direita", afirmou, sinalizando a abertura dos bloquistas para uma aliança à esquerda, que inclua o PS, que derrote o atual executivo autárquico na capital.
À conferência nacional foi também apresentado um documento global alternativo, subscrito por vários elementos que integravam a lista de Mariana Mortágua à mesa nacional do partido na última convenção nacional.
Na primeira defesa pública do texto -- uma vez que os subscritores não quiseram prestar declarações à comunicação social antes da conferência -- o dirigente Adelino Fortunato pediu "debate que vá além da gestão diária", apesar de lamentar que o partido esteja "totalmente controlado pelo seu aparelho e praticamente sem margem para ser influenciado".
Apesar de considerar que é necessário intervir em "todos os movimentos sociais", sejam antirracistas, ecologistas, feministas, LGBTQIA+ ou outros, o bloquista frisou que "só o derrubo do capitalismo e a tomada de poder pelo proletariado poderá criar as condições para que estas causas tenham inteiro sucesso".
Lamentando que o BE se tenha transformado numa "câmara de eco dos novos movimentos sociais", Adelino Fortunato argumentou que "a conversão do Bloco numa espécie de movimento dos movimentos, sem que o movimento dos trabalhadores tenha um papel de liderança, teve consequências negativas de vários pontos de vista".
"Desde logo, porque a pressão para a dispersão, que aparenta ser um ganho em termos de amplitude na abordagem à crítica e à estrutura do capitalismo, converteu-se em perda de profundidade daquela mesma crítica. O BE hoje é um partido bastante moderado, confundindo-se frequentemente com a restante esquerda social-democrata, nomeadamente o Livre e PS, menos", lamentou.
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