São meia dúzia de voltas na carrinha alimentada a eletricidade que Céu Gonçalves já percorre sem precaver as curvas. Garfe não é grande. A casa de Joaquim rapidamente aparece no horizonte. É uma vivenda de dois andares, que em tempos pareceu acanhada para tanta gente e agora se afigura gigantesca face ao único homem que a habita.
Aos 84 anos, Joaquim é sensível à buzina. Sabe que religiosamente, por volta das seis da tarde, lhe aparece a “funcionária mais antiga da instituição”, numa farda azul-turquesa, a perguntar como vai. Não poucas vezes lhe empresta um braço para o ajudar nas passadas, porque a partir dali o dia que se finda recomeça, afinal, com os outros 11 da sua idade.
Todos têm entre os 71 e os 88 anos. Todos estão sozinhos. A todos morreu alguém. A quase todos falta um filho por perto e espreita a solidão. Todos são vizinhos, mais rua, menos rua. Mas numa localidade abrasada de gente e com o peso da idade, um quarteirão pode fazer a diferença, sobretudo na altura em que o sol se põe.
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