No lobby de um hotel frenético de Lisboa, onde turistas outonais entram e saem carregados de malas e tiram selfies, ele é um peixe fora da água. Figura de preto discreta, de barbicha em ponta e óculos à John Lennon, Antonio Casilli é sociólogo e professor no Instituto Politécnico de Paris. Italiano de 51 anos, que estudou primeiro economia — o que chama a sua “primeira vida” — e depois sociologia, acabou por unir ambas as disciplinas dedicando-se, entre outras coisas, a investigar e delimitar o conceito de ‘trabalho digital’ e o impacto da IA não no que toca à sua utilização, mas ao modo como está a transformar e a moldar o trabalho informal no chamado Sul Global. Cofundador do DipLab (Digital Platform Labour), conhece o terreno e viu como se organizam estes novos núcleos laborais, alguns extremamente precários, que segundo dados do Banco Mundial abrange 435 milhões de pessoas.
Podemos dizer que o seu trabalho gira em torno do capitalismo digital?
Sim, o meu objeto de estudo é o capitalismo das plataformas digitais e a forma como este mudou a maneira como são produzidos os bens e os serviços. Trata-se de uma enorme mudança de paradigma que ocorreu 20 anos atrás. ‘Plataforma’ significa, basicamente, que estamos a afastar-nos de uma base fixa, como as empresas dos anos 1940, e a transitar para uma nova situação em que as empresas são também mercados. Pense na Amazon: é um mercado e uma empresa. O que ela faz ao trabalho e aos serviços que produz? É o que tento responder.
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