Oportunidades e cautelas a ter em época de saldos: redução de preço implica um valor inferior ao mais baixo dos últimos 30 dias consecutivos
Em plena época dos saldos, saiba que cuidados deve ter para evitar burlas e enganos, levando para casa aquele produto que estava mesmo à espera de encontrar a preço reduzido
Depois dos dias intensos de Natal, com muito papel de embrulho rasgado e laços guardados com carinho para reutilizar, a cabeça dos consumidores já está no próximo grande evento do comércio: a época dos saldos. Aguardada com expectativa por muitos, e com início tradicionalmente marcado para os primeiros dias de janeiro, a redução de preços em grande parte das lojas repete a enchente da época natalícia nos estabelecimentos comerciais. A par do entusiasmo e da oportunidade de comprar produtos de qualidade por valores mais baixos, há algumas dicas que deve seguir para evitar cair no engodo de certos saldos.
Antes de irmos a essas sugestões, é oportuno distinguir os conceitos de ‘saldos’ e ‘promoções’ porque, apesar de ambos envolverem reduções de preços nos artigos assinalados, as regras não são comuns. De acordo com Sofia Lima, técnica de assuntos jurídicos da Deco Proteste, os saldos podem acontecer em qualquer altura do ano, desde que não excedam o limite de 124 dias. Tradicionalmente, decorrem no verão e no inverno. Já as promoções ganham vida “sempre que seja esse o entendimento dos comerciantes”, sem limite temporário estabelecido. Além disso, também se distinguem pela sua finalidade: “Os saldos têm como objetivo essencialmente promover o escoamento de stock e as promoções visam principalmente potenciar a venda de determinados produtos e equipamentos, ou até lançar novos artigos que irão ser comercializados”, acrescenta, em declarações ao Expresso.
Se, por esta altura, o leitor tem por casa alguma prenda de Natal que precisa de trocar ou ainda se lembra daquela camisola ou eletrodoméstico que viu numa loja e que gostaria de adquirir, estes podem ser bons dias para satisfazer essa vontade. Mas, antes de sair de casa ou decidir navegar online, há algumas considerações a ter em mente. Sofia Lima lembra que é importante “fazer as compras com antecipação e não deixar os stocks das lojas esgotar”, evitando o risco de já não encontrar o produto que pretendia. Ponto essencial é também escapar às compras por impulso, ou seja, estar atento às estratégias comerciais que as incentivam e definir um orçamento. Nesta altura, como os artigos estão mais baratos, o consumidor corre o risco de comprar mais do que o expectável — as tais compras por impulso. “Convém fazer uma avaliação prévia do que realmente se necessita”, aconselha a especialista da associação de consumidores, lembrando que um bom truque poderá ser efetuar as compras em dinheiro, no caso das lojas físicas. “Quando utilizamos o cartão de crédito ou de débito nem sempre temos a perceção real do valor que estamos a gastar”, acrescenta.
No caso de optar pela “modalidade” de compra em loja, é essencial verificar sempre a qualidade do artigo e estar ainda atento às políticas de devolução. A especialista lembra que, neste caso, não existe uma obrigação por parte do vendedor, como, por exemplo, nas transações online — em que há um período de 14 dias para devolução do artigo, sem necessidade de invocar qualquer razão. “Normalmente, o que acontece é os comerciantes aceitarem a devolução dos artigos, mas neste caso compete ao vendedor dizer em que condições é que deve ser realizada”, aponta Sofia Lima.
Ao optar por compras online, além das precauções mencionadas anteriormente, é crucial ficar atento a fraudes e a sites falsos. Numa primeira fase, “há que desconfiar de preços muito reduzidos” e depois “prestar muita atenção ao domínio e ao próprio site”. “Temos vindo a detetar, com alguma regularidade, sites que tentam decalcar o nome de outros sites muito conhecidos, com pequenas variações no final, por exemplo em vez de ter o final ‘.pt’, têm ‘.net’ ou ‘.com’”, começa por alertar a técnica da Deco Proteste, acrescentando que “os consumidores julgam que estão a aceder a um site tradicional e na verdade estão a ser direcionados para outras plataformas que não oferecem garantias de segurança”. Por norma, estas páginas são criadas de forma muito célere, ou seja, depois da burla praticada “desaparecem”.
Uma boa forma de verificar se os sites a que se está a aceder são fidedignos é recorrer a uma ferramenta criada pela organização de consumidores para o efeito. Basta aceder a https://shorturl.at/egiFM, inserir o link da página de compras e aguardar pelo resultado.
Por falar em endereços de sites, até as mensagens recebidas no telemóvel podem levar o consumidor ao engano. Sofia Lima dá conta que são muitos os casos de envio para o telemóvel de mensagens dizendo que certa encomenda se encontra disponível para levantamento e pedindo para clicar num link. “Na verdade, muitos dos consumidores nem sequer efetuaram uma compra”, afirma. A isto chama-se phishing e é mais uma forma de fraude.
Por fim, se nesta época de saldos o leitor vai navegar pela internet à procura das melhores ofertas, reflita antes de escolher o método de pagamento ou partilhar os seus dados pessoais. Segundo a especialista, “por norma são utilizados cartões de crédito ou débito, mas é útil criar um cartão virtual, evitando ao máximo a partilha de dados pessoais com as plataformas”. Este tipo de cartão pode ser de compra única, com um determinado valor máximo de transação, a partir do qual deixa de ser válido. Modalidades como o Paypal ou o Buy now, pay later também oferecem mais segurança. Igualmente, a transferência bancária ou a referência Multibanco são opções que salvaguardam os consumidores.
O preço é mesmo mais baixo?
Opte-se pela compra em loja física ou online, e antes ou após fazer contas, a verdade é que o essencial deste tema são os preços. Afinal, como podemos saber que estamos a adquirir um produto realmente mais barato? Segundo Sofia Lima, “de acordo com a lei mais recente, para que exista uma redução de preço é necessário que o valor praticado seja inferior ao preço mais baixo praticado nos últimos 30 dias consecutivos por aquela loja”, ou seja, se tiver um produto debaixo de olho, é útil ir registando o preço antes de chegar ao período de saldos. É que em algumas situações, segundo avança a especialista, esta redução não se verifica.
Se escassear o tempo para este stalking ao preço do artigo desejado, a Deco Proteste tem outra ferramenta que pode ajudar: uma plataforma que compara preços, com um sistema de semáforos em que, do vermelho ao verde, avalia se aquela compra é vantajosa, ou não. Acedendo a https://www.deco.proteste.pt/comparar-precos, é só colocar o link correspondente ao artigo pretendido, e disponível online, e a plataforma diz-lhe se compensa ou não aquela compra.
Com mais ou menos artigos no cesto, e estando atento a possíveis armadilhas, a verdade é que a época de saldos pode ser uma boa altura para comprar um produto que gostava muito de ter, mas que normalmente não é compatível com a sua carteira. “Esta é uma altura fantástica precisamente para esses casos”, remata Sofia Lima.