O coordenador da unidade de neuropediatria do Hospital Santa Maria pede a demissão do Presidente da República. António Levy Gomes denunciou a alegada interferência de Marcelo Rebelo de Sousa no caso das gémeas luso-brasileiras. Ele está a ser o rosto da contestação a este processo.
Em direto no Jornal da Noite, na SIC, o médico disse que troca correspondência com o Presidente da República “há mais de 10 anos”, sempre “com muito boa aceitação das duas partes”. Numa destas conversas, Levy Gomes terá alertado para um problema no Serviço Nacional de Saúde (SNS).
“A 21 de novembro de 2019, escrevi ao Presidente para alertá-lo para o facto do SNS poder ser utilizado por pessoas que não viviam em Portugal, que podiam usar o SNS para fins unicamente financeiros. Já se falava na hipótese de alguns doentes virem a usar esse medicamento dos dois milhões de euros. Marcelo respondeu a dizer que tenho toda a razão e que é uma vergonha isto acontecer”.
O caso das gémeas foi revelado numa reportagem da TVI, transmitida no início de novembro, segundo a qual duas crianças luso-brasileiras vieram a Portugal em 2019 receber o medicamento Zolgensma.
Segundo a TVI, havia suspeitas de que tal tivesse acontecido por influência do Presidente da República, que negou qualquer interferência no caso.
“No dia 28, voltei a escrever, com surpresa, ao Presidente que disseram-me que os doentes estavam a chegar por sua indicação (…) Marcelo remata dizendo que enviou toda a correspondência para o chefe da Casa Civil e depois para o gabinete do primeiro-ministro. Acho que acabamos assim a conversa. Nesse dia, o grupo dos neuropediatras do Santa Maria entregou uma carta ao diretor clínico do meu hospital", conta Levy Gomes.
Nessa carta, os neuropediatras já denunciavam “a ameaça de chegarem crianças unicamente para fazer turismo de saúde em Portugal”, conta o médico, sem mencionar, especificamente, o caso das gémeas luso-brasileiras.
“Nós já sabíamos que, uma vez que entrassem no SNS, iriam ter 4 milhões de euros e depois iam embora, ainda por cima com mais 75.000 euros de cadeiras elétricas”.
Estão todos a mentir?
Questionado se Marcelo, a antiga ministra da saúde Marta Temida e o ex-secretario de Estado Lacerda Sales - todos negam interferência no caso - estão a mentir, o médico volta a dizer que o filho do Presidente esteve envolvido, e que Marcelo sabia.
“Acho acho que apesar de tudo, o Presidente da República já definiu o que tinha feito e os limites da sua intervenção. Ele confirmou-me que o filho tinha pedido [o medicamente] e disse que tinha feito a transmissão para os órgãos competentes. Sei que a minha colega escreveu repetidas vezes que a consulta era pedida através do secretário de Estado, da minha diretora clínica e da diretora de serviço”.
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