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“Em Portugal e Espanha, a água potável será racionada, as secas serão mais frequentes e os incêndios mais rápidos e causarão mais mortes”

“Em Portugal e Espanha, a água potável será racionada, as secas serão mais frequentes e os incêndios mais rápidos e causarão mais mortes”
LUIS FORRA

O cientista Diarmid Campbell-Lendrum investiga há 20 anos os efeitos do aquecimento global na saúde pública. Diretor do departamento da Organização Mundial de Saúde (OMS) para as Alterações Climáticas foi pioneiro na elaboração de previsões científicas sobre as consequências para a espécie humana do aumento da temperatura, dos eventos climáticos extremos, da poluição atmosférica ou da circulação de novos vírus

Quais as consequências das alterações climáticas na saúde da população mundial?
O aumento do “stress térmico” prejudica os idosos e os residentes urbanos. As doenças infecciosas – a malária, o dengue, a cólera – são propagadas mais rapidamente e o colapso de sistemas agrícolas causa insegurança alimentar e desnutrição. O risco de eventos climáticos extremos é acrescido, como o são os incêndios florestais em Portugal, sob contexto de seca e de temperaturas elevadas, que provocam níveis alarmantes de poluição atmosférica além de vítimas imediatas. A inalação de poluentes mata 7 milhões por ano, é uma pessoa a cada cinco segundos que padece pela exposição prolongada a ar contaminado, 99% das pessoas estão submersas em altos níveis de poluição, enquanto dois terços da contaminação atmosférica provêm da queima de combustíveis fósseis na produção de energia e no uso de transportes. A transição energética poderá salvar milhões de vidas.

E a intoxicação de fontes de água lima?
A escassez de água potável e a falta de saneamento básico matam outros milhares anualmente, enquanto muitos milhões não têm acesso a sistemas de saneamento, sujeitam-se a água insalubre e a doenças diarreicas. As alterações climáticas exacerbam esse problema, porque o aumento da temperatura induz à reprodução das bactérias na água e nos alimentos. As secas dificultam a higiene urbana e as inundações destroem sistemas de canalização. Conjuga-se esta perigosa interação entre aquecimento, destruição, água e saneamento. Populações mais pobres são mais afetadas, latrinas a céu aberto não se coadunam com condições climatéricas extremas. Chuvas intensas nessas regiões resultam em surtos de cólera. A saúde de todos é impactada, mas os mais pobres são os mais vulneráveis.

Consegue nomear doenças causadas pelas alterações climáticas?
O calor extremo aumenta a incidência e a mortalidade das doenças cardiovasculares e respiratórias. As infeciosas são transmitidas mais facilmente e a desnutrição agrava os sintomas das restantes. A poluição provoca complicações no sistema respiratório, como tosse, infeções agudas, cardiovasculares, e está associada ao aumento de cancro, especialmente no pulmão.

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