Pelo menos 52 praias de Norte a Sul do país (das 511 águas balneares classificadas como aptas para banhos no continente) foram interditadas ou desaconselhadas temporariamente em Portugal, entre inícios de Maio e 31 de Agosto. Só em agosto foram 26 (das quais 12 águas balneares em rios ou lagos)as águas balneares com interdição pelos Delegados de Saúde Regional ou desaconselhadas pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA).
No total somam-se nestes quatro meses 72 ocorrências, aparentemente menos que as registadas em 2022 (94 ocorrências). E houve várias praias que apresentaram episódios de contaminação duas ou três vezes no mesmo mês ou em vários, como foi o caso da Duquesa (Cascais), e da dos Pescadores (Albufeira).
O caso mais recente foi o da Lagoa de Albufeira, em Sesimbra, interditada a 30 de agosto, após deteção da presença de coliformes fecais na água, cuja origem ainda se desconhece. No dia anterior, fora a praia fluvial de Bitetos, em Marco de Canavezes, que recebera ordem de desaconselhamento de banhos após a realização de análises pela pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA), que detetou “valores microbiológicos acima dos parâmetros de referência”.
As contaminações microbiológicas, associadas maioritariamente à presença de coliformes fecais ou de salmonelas (nas interiores), estão sobretudo ligadas a descargas de esgotos não tratados nas linhas de água, tenham estas origem em estações de tratamento de águas residuais que estão em sobrecarga ou a funcionar mal em terra, ou a descargas ilegais em ribeiras ou no mar.
Foi o que aconteceu também nas praias costeiras de Azul Conchinha (Matozinhos), Duquesa e Azarujinha (Cascais), Santo Amaro (Oeiras), Zambujeira do Mar (Odemira) ou Quarteira e Vale do Lobo (Loulé); ou nas interiores de Pego Fundo (Alcoutim), Janeiro de Baixo (Pampilhosa da Serra) ou Congida (Freixo de Espada à Cinta).
Também houve praias desaconselhadas por haver obras no local ou baixo nível de albufeiras, como aconteceu, por exemplo, na praia fluvial de Albergaria dos Fusos em Cuba, Alentejo; na de Ponte da Pedra, em Mirandela; na Albufeira de Odeleite, em Castro Marim; ou na de Unhais da Serra.
Poluição afeta 25 praias com Bandeira Azul
As contaminações verificadas até agora obrigaram 25 praias com Bandeira Azul a arriar o galardão “temporariamente devido ao decréscimo da qualidade da água balnear”, indica a Associação Bandeira Azul da Europa (ABAE) ao Expresso. Entre estas a de Olhos de Água em Albufeira, a de Vale do Lobo em Loulé, ou a de Santo Amaro em Oeiras.
No final da época balnear, ficar-se-á a saber se estas águas balneares terão condições para se candidatarem ao ícone de qualidade balnear no próximo ano, informa fonte da ABAE. Em 2023, as praias de Paço de Arcos e de Caxias, que em 2022 tinham conseguido pela primeira vez ostentar o galardão, já não puderam fazê-lo em 2023 devido a episódios semelhantes.
Das 394 Bandeiras Azuis atribuídas este ano, apenas 359 ainda estavam erguidas a 31 de Agosto, um mês antes da época acabar. Isto porque, além das referidas contaminações, 11 não chegaram a ser erguidas por falta de nadadores salvadores (Mirante, em Torres Vedras; Clube Náutico de Avis, em Avis; Cova Gala, Cova Gala Hospital, Relógio e Buarcos na Figueira da Foz; Pedras da Agudela em Matosinhos, Culatra-Mar, em Faro; Barro Vermelho e Piscinas do Carapacho, em Santa Cruz da Graciosa; e Calhetas da Maia, na Ribeira Grande); duas perderam por deixarem de ter nadadores; 18 já fecharam a época balnear; e 12 foram arriadas temporariamente por furto, eventos na praia, algas invasoras, ou outro tipo de contaminação.
A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) informa que realiza mais de 9000 análises durante a época balnear o que envolve “um investimento de 216 mil euros só em análises, a que é preciso somar os custos de recolha das amostras em todas as águas balneares identificadas”. E esclarece que “as restrições ao banho são medidas de gestão em circunstâncias excepcionais, que visam proteger a saúde dos banhistas”, cabendo o desaconselhamento ao banho à APA e a imposição de interdição à Autoridade de Saúde Regional (má qualidade da água) ou aos municípios e capitanias por outras razões de segurança.
Informação pouco clara
Por seu lado, a associação ambientalista ZERO tem alertado para “falhas na informação que é disponibilizada no sítio de internet da APA”, dado que nem todas as praias são rapidamente identificadas, nem esclarecidos os motivos de interdição ou desaconselhamento. E os dados encontrados na página online da APA apresentam discrepâncias entre diferentes documentos e a informação do Sistema de Informação de Recursos Hídricos.
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