Sociedade

Nas boas-vindas aos peregrinos, D.Manuel Clemente deixou um alerta (em cinco línguas): “A virtualidade deixa-nos sentados”

Nas boas-vindas aos peregrinos, D.Manuel Clemente deixou um alerta (em cinco línguas): “A virtualidade deixa-nos sentados”

Durante a missa inaugural da Jornada Mundial da Juventude, o Patriarca de Lisboa pediu aos milhares de peregrinos para se sentirem em “casa” em Lisboa, apontou para a metáfora do caminho da vida e deixou um recado para os jovens sobre o mundo virtual: “A virtualidade mantém-nos sentados, a realidade consistente põe-nos a caminho”, declarou D. Manuel Clemente, perante uma multidão colorida

Mais de 300 cantores e elementos de uma orquestra liderada por Joana Carneiro, acompanhados pelo coro de surdos “Mãos que Cantam”, protagonizaram um momento musical que assinalou o arranque oficial da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) esta terça-feira, no Parque Eduardo VII, em Lisboa.

Na saudação inicial, o Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, deu as boas-vindas aos milhares de peregrinos e voluntários de cada “terra, língua e cultura” presentes no centro da capital em cinco línguas – português, espanhol, inglês, italiano, francês – e pediu para se sentirem em casa. “Bem-vindos a todos. Desejo que vos sintais em casa, nesta casa comum em que viveremos a JMJ", começou por afirmar D. Manuel Clemente, perante uma multidão colorida, o Presidente da República e o autarca de Lisboa, entre outras figuras.

Lisboa acolhe-vos de coração inteiro, e assim as outras terras em que já estivestes ou estareis deste Portugal, também vosso. Acolhem-vos as famílias e as instituições a todas elas”, acrescentou. Reconhecendo que foi para muitos peregrinos um “caminho difícil pela distância, as ligações e os custos que a viagem envolveu”, garantiu que valerá a pena.

Durante a homília da missa inaugural da JMJ, o Patriarca de Lisboa destacou desde logo o lema da Jornada: “Maria levantou-se e partiu apressadamente” – visível em várias t-shirts – antecipando a chegada do papa Francisco, e lembrando que o Sumo Pontífice acrescentou que sim “apressadamente”, mas não ”ansiosamente". "É muito importante pôr-se a caminho. Assim devemos encarar a própria vida, como o caminho a percorrer, fazendo de cada dia uma nova etapa”, sugeriu.

Na metáfora do caminho da vida, D. Manuel Clemente defendeu a ação e deixou um recado para os jovens sobre o mundo virtual: “A virtualidade mantém-nos sentados, diante de meios que facilmente nos usam quando julgamos usá-los. Bem pelo contrário, a realidade consistente põe-nos a caminho, ao encontro dos outros e do mundo como ele é, tanto para o admirar como para o fazer melhor”, advertiu.

Embora reconheça o papel dos media, o Patriarca considerou que não se deve deixar de caminhar por si próprio e ir ao encontro da realidade. "Vivemos mediatamente e já não saberíamos viver de outro modo. Contamos com o seu apoio, mas não nos dispensamos de caminhar por nós mesmos, de contactar e verificar diretamente a realidade que nos toca”, reforçou. Um recado direto para os jovens cada vez mais dependentes das redes sociais e com acesso a fake news.

Alerta sobre mundo virtual, apelo ao “encontro” e “partilha” na vida real

“Nada pode substituir este caminho pessoal e de grupo, ao encontro do caminho de todo. É verdade que hoje muita coisa vos pode deter, com a possibilidade de substituirmos a realidade verdadeira, que só se atinge a caminho dos outros, como realmente são, pela aparência virtual de um mundo à escolha. Um mundo à escolha, diante de um ecrã e dependente de um clique que o mude por outro”, vincou. Num tempo marcado pela “urgência”, D. Manuel Clemente apelou ainda à serenidade, sem “atropelos” ou "ansiedade", para chegarmos também ao outro.

Expressando palavras de esperança e misericórdia, o Patriarca de Lisboa apelou ainda à hospitalidade, ao “acolhimento sincero” e “partilha”. “Falta muito disto mesmo no mundo em que estamos, quando nem damos bem pelos outros, nem reparamos como devemos naqueles que encontramos”, criticou.

Por último, pediu aos peregrinos para praticarem “intensamente” o encontro e a partilha nos seis dias da Jornada: “O mundo novo começa na novidade de cade encontro e na sinceridade da saudação que trocarmos. Para que sejamos pessoas entre pessoas, em mútua e constante visitação. Desejo-vos a todos uma feliz e estimulante JMJ”, rematou.

A primeira e segunda leitura foram feitas em italiano e francês, por um jovem luxemburguês e um peregrino senegalês, respetivamente. Depois houve lugar para a leitura do Evangelho, e ainda para a comunhão, que foi marcada por vários estreantes. Tal como a abertura o encerramento da missa voltou a ser feito em cinco idiomas.

Chegou assim ao fim o primeiro evento oficial da JMJ, uma missa inaugural que cobriu o Parque Eduardo VII de manchas coloridas com as cores de bandeiras e T-shirts dos peregrinos e, por contraste, um manto branco de sacerdotes. A multidão de cerca de 200 mil voluntários, padres e peregrinos encheu o Parque até ao Marquês de Pombal. Será apenas a primeira multidão destes seis dias de Jornada, cujo ponto alto será o encontro com o Papa.

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