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Faial: 25 anos depois do grande sismo, a ilha ainda abana

Faial: 25 anos depois do grande sismo, a ilha ainda abana

25 anos após o ‘grande sismo’ dos Açores, que provocou oito mortes a 9 de julho de 1998, o ilha do Faial vive dias de intensidade sísmica: quatro abalos sentidos pela população em dois dias

Faial: 25 anos depois do grande sismo, a ilha ainda abana

Raquel Moleiro

Jornalista

Quatro sismos foram sentidos pela população do Faial, Açores, nos últimos dois dias devido à "intensidade sísmica" que tem vindo a ser registada ao longo da última semana naquela ilha. Segundo a informação disponibilizada pelo Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores (CIVISA), o último abalo teve magnitude de 3,7 na escala de Richter, tendo acontecido às 17:37 deste domingo (hora local), com epicentro a 24 quilómetros do Capelo, no concelho da Horta.

No sábado foram sentidos três sismos: o primeiro de magnitude de 3,3 (escala de Richter) foi registado às 0h16, o segundo de magnitude de 3,8 às 11h45 e o terceiro de magnitude 3,3 às 13h24.

Segundo o CIVISA, os eventos inserem-se "na atividade sísmica que se tem vindo a registar" ao largo da ilha do Faial nos últimos dias. Também este domingo foi registado um sismo com magnitude 2,5 em São Jorge, que se enquadra na "crise sismovulcânica em curso na ilha desde março de 2022".

25 anos do ‘grande sismo’

O Presidente da República assinalou este domingo os 25 anos do sismo no Faial, Pico e São Jorge, que provocou oito mortes a 9 de julho de 1998, numa mensagem escrita ao presidente do Governo Regional dos Açores, José Manuel Bolieiro, pedindo que "exprimisse a solidariedade às vítimas, bem como aos autarcas locais". Na nota divulgada na página da Presidência lê-se que Marcelo Rebelo de Sousa “evocou o seu testemunho direto” durante a visita que fez então ao local e "onde ainda sentiu as réplicas"..

Esta manhã, o primeiro-ministro, António Costa, também assinalou a data numa mensagem divulgada na rede social Twitter, na qual prestou homenagem aos habitantes das ilhas açorianas e à "eficiência dos poderes públicos que concretizaram uma reconstrução exemplar".

Em 9 de julho de 1998, um sismo de 5,8 pontos na escala de Richter atingiu a costa norte da Ilha do Faial, nos Açores, provocando oito mortos, 110 feridos e mais de 1.500 desalojados, e destruindo 70% do parque habitacional daquela ilha.

Em declarações à Lusa, José Contente, atual deputado do PS ao parlamento regional e que era secretário regional da Habitação e Obras Públicas em 1998, recordou as dificuldades que o executivo sentiu naquele ano para alojar provisoriamente as pessoas, numa primeira fase, em tendas e depois em prefabricados.

"Houve que realojar logo aquelas pessoas, naquele verão, em termos de realojamento provisório. Eu recordo, a esta distância, que não havia prefabricados em lado nenhum, as fábricas estavam fechadas no verão. Teve de vir uma equipa do Canadá para fazer a montagem", conta.

25 anos depois, o ex-governante considera que o Faial "está hoje mais bem preparado para enfrentar fenómenos como o terramoto de 9 de julho de 1998", apesar de a ilha estar a ser agora novamente assolada por uma nova crise sísmica.

De acordo com o CIVISA, o Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores, foram registados desde o início da semana dezenas de sismos (alguns dos quais sentidos), com epicentro no mar, a oeste da freguesia do Capelo, exatamente do lado oposto ao do grande sismo, que ocorreu também no mar, a apenas cinco quilómetros da ponta da Ribeirinha, na costa leste.

"A atividade sísmica a oeste da ilha do Faial encontra-se acima dos valores normais de referência", refere o 'site' oficial do CIVISA, que adianta estar a acompanhar a evolução desta crise sísmica de origem tectónica, ou seja, resultante da movimentação das placas tectónicas que atravessam o grupo Central dos Açores.

Ainda há obra por fazer

O presidente do Governo dos Açores comprometeu-se este domingo a reabilitar tudo o que foi destruído pelo sismo de 1998 na ilha do Faial, elogiando a reação da população ao desastre. "O tanto que foi feito não dispensa uma capacidade realista do que importa ainda fazer. Do que ainda não está completo. Do que podemos elevar e acrescentar pelo desenvolvimento das nossas ilhas. O Governo dos Açores compromete-se com o progresso das nossas ilhas e com a reabilitação do destruído", declarou José Manuel Bolieiro.

O líder do executivo dos Açores (PSD/CDS-PP/PPM) falava hoje na Ribeirinha, cidade da Horta, na sessão solene evocativa dos 25 anos do sismo de 1998.

"Cumprimos um quarto de século deste terrífico evento que a todos nos afetou e que infelizmente não se tratou de um ato único, nem primeiro, nem quiçá último na vida telúrica das nossas ilhas nos Açores", admitiu. Atualmente há ainda duas igrejas paroquiais destruídas pelo terramoto que não reabriram: a de Pedro Miguel, que foi reconstruída e será inaugurada ainda este mês, e a da Ribeirinha.

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