A unidade anticorrupção da Polícia Judiciária está a realizar buscas nas instalações do grupo Impala, em Sintra. O dono daquele grupo de comunicação social, Jacques Rodrigues, foi detido, juntamente com o filho, Jacques Gil Rodrigues. São suspeitos dos crimes de de corrupção, insolvência dolosa agravada, burla qualificada e falsificação ou contrafação de documentos. Em causa, dívidas de 100 milhões de euros a credores.
A notícia, avançada pela “Visão”, foi confirmada ao Expresso por fonte próxima da investigação.
Em comunicado, e sem referir nomes, a PJ revela que está a realizar trinta e dois mandados de busca (oito buscas domiciliárias e vinte e quatro buscas não domiciliárias).
Durante a ação policial que se desenvolveu em Lisboa, Sintra, Cascais, Oeiras, Amadora, Santo Tirso, Porto, Matosinhos e Funchal, a PJ deu cumprimento a quatro mandados de detenção fora de flagrante delito e à constituição de dez arguidos.
Além das buscas domiciliárias, foram realizadas seis buscas em empresas com atividade no domínio da comunicação social, quatro em sociedades/gabinetes de revisores oficiais de conta e uma em escritório de advogado.
A operação, designada «Última Edição», investiga “um plano criminoso traçado para, entre o mais, ocultar a dissipação de património, através da adulteração de elementos contabilísticos de diversas empresas, em claro prejuízo de diversos credores, os trabalhadores, fornecedores e o Estado, estando reconhecidos créditos num valor total de cerca de cem milhões de euros”, revela a PJ.
Haverá também desvio de valores com origem nas estruturas societárias, para fora do território nacional, num montante global que ascenderá a largas dezenas de milhares de euros.
Despedimentos e pedidos de insolvência
Nos últimos anos, o grupo Impala tem passado por inúmeros problemas financeiros.
No final do ano passado, o Expresso revelou que a DescobrirPress, a empresa do grupo que editava as revistas “Maria”, “Nova Gente” e “TV7 Dias”, entre outras, foi declarada insolvente em outubro e tem dívidas de €98,3 milhões por pagar. Grande parte dos créditos eram de trabalhadores e ex-trabalhadores
No verão de 2020, a DescobrirPress tinha pedido um novo Processo Especial de Revitalização (PER) para evitar a insolvência.
Os trabalhadores temiam que os créditos que lhes eram devidos nunca chegassem a ser totalmente saldados. É que, antes do pedido para um novo PER ter dado entrada no Citius, a DescobrirPress já tinha um PER, homologado em 2017, que previa o perdão de 65% dos créditos comuns da dívida de 50 milhões de euros e o pagamento mensal em 60 prestações das indemnizações aos ex-trabalhadores. E, em abril de 2020, a empresa deixou de pagar aos antigos trabalhadores estes créditos laborais, alegando necessidades de reestruturação por causa da pandemia de covid-19, entre as quais o despedimento coletivo de 53 trabalhadores, anunciado em maio desse ano.
Nessa altura, e tal como o Expresso noticiou, esta meia centena de trabalhadores pertenciam à DescobrirPress “muitos deles jornalistas”. As equipas foram reduzidas a três ou quatro pessoas. Na TV7 Dias, em particular, o Sindicato dos Jornalistas falava numa “razia total”.
Já este ano, Jacques Rodrigues avançou com ações judiciais contra as empresas que detêm os jornais ‘Eco’, ‘Negócios’, ‘Jornal Económico’ e ‘Meios e Publicidade’ e respetivos diretores. Notícias sobre a insolvência de uma das empresas do grupo detentor das revistas Maria, Nova Gente e TV 7 dias, entre outras, estava na base dos processos.
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