3 fevereiro 2023 11:05

Numa pequena estrutura de cimento, no Bairro da Pasteleira, no Porto, vários toxicodependentes fumam crack e heroína a meio da tarde
rui duarte silva
Os serviços de tratamento estão sem meios para responder a todos os pedidos de ajuda, as redes de tráfico estão cada vez mais sofisticadas
3 fevereiro 2023 11:05
O maior mercado de droga de Lisboa esteve fechado na terça-feira à tarde. Durante três horas, cerca de 100 agentes da unidade especial de polícia, de cara tapada e fortemente armados, vedaram todos os acessos ao Bairro Quinta do Loureiro. Ninguém saía, ninguém entrava. Enquanto isso, do outro lado da Avenida de Ceuta, por baixo do viaduto e em casas abandonadas, grupos de toxicodependentes, encolhidos pelo frio e pela privação, esperavam, agitados, pela próxima dose. Assim que a polícia desmobilizou, ainda as últimas carrinhas da PSP dobravam a esquina, dezenas de corpos emagrecidos até aos ossos cruzaram a estrada a correr, por entre os carros, consumidos pela ansiedade. Minutos depois já uma longa fila se formava junto às bancas de tráfico. “Demorou imenso tempo. Estavam mais de 60 pessoas na bicha para comprar”, contou Alexandra, de 31 anos, uma antiga professora de piano que a droga atirou para uma vida na rua. E finalmente acendeu o cachimbo de crack.
A aparatosa operação policial foi realizada menos de duas semanas depois de outra grande intervenção da PSP. Mas, apesar das rusgas, o negócio manteve-se imperturbável no coração do bairro, que nasceu para realojar os moradores do antigo Casal Ventoso e onde diariamente mais de 300 toxicodependentes alimentam o vício. “Combater o tráfico é como cortar a cauda de uma lagartixa. Volta logo a crescer”, desabafa um agente. Sobretudo quando a procura não pára de aumentar, como aconteceu no último ano. “Há cada vez mais pessoas a consumir e em condições muito precárias. Algumas já tinham consumos anteriores, outras tinham vidas equilibradas, mas perderam o emprego com a pandemia e acabaram por se desorganizar”, explica Solange Ascensão, coordenadora da Crescer, associação que gere as duas equipas de rua que dão apoio psicossocial à população toxicodependente em Lisboa.
Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.