Sociedade

“Gentrificação”, “bomba-relógio”, “insustentável”: preços das casas empurram 76 mil pessoas para fora de Lisboa e Porto em três anos

1 dezembro 2022 23:43

Joana Pereira Bastos

Joana Pereira Bastos

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Jornalista

Raquel Albuquerque

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Jornalista

Jaime Figueiredo

Jaime Figueiredo

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Jornalista/Coordenador-Geral de Infografia

Lisboa também ganhou habitantes nos últimos três anos, mas com um perfil diferente dos que saem, alterando a “composição social” do território

Preço das casas afasta jovens e classe média e baixa. Perfil dos moradores está a mudar. Um quarto dos novos residentes veio do estrangeiro. Porto vive fenómeno semelhante

1 dezembro 2022 23:43

Joana Pereira Bastos

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Raquel Albuquerque

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Jaime Figueiredo

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Nos últimos três anos, 56 mil pessoas deixaram Lisboa e mudaram-se para outro município do país. Mais de metade tinha menos de 40 anos e a grande maioria (78%) trocou a capital pela periferia, segundo dados dos Censos 2021 enviados ao Expresso pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). Para muitos, a saída não resultou de uma escolha. Foram empurrados para os subúrbios devido à subida galopante do preço das rendas e das casas. Se não fosse a entrada de novos residentes, Lisboa teria perdido 10% da população entre 2019 e 2021. Na realidade, porém, o concelho até cresceu neste período. Só que os que chegaram têm outro perfil, e isso está a mudar a composição social da cidade: um quarto veio do estrangeiro.

“As pessoas não estão a sair por opção própria. São forçadas a isso porque o preço das casas se tornou insustentável”, resume Tiago Mota Saraiva, arquiteto e urbanista, frisando que Lisboa entrou “há já alguns anos” num mercado imobiliário globalizado, “com preços incompatíveis com os rendimentos médios praticados em Portugal”. Nos últimos seis anos, o Índice de Preços da Habitação disparou mais de 80%, sobretudo nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto e no Algarve, segundo dados do INE. “Está a haver uma expulsão da classe média e média baixa para a periferia, em particular dos jovens. Quando chegam à altura de se autonomizarem e constituírem família, não conseguem aceder a habitação dentro da cidade”, afirma Jorge Macaísta Malheiros, geógrafo e investigador no Instituto de Geografia e Ordenamento do Território (IGOT) da Universidade de Lisboa.