
Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo vai analisar e disponibilizar informação sobre as receitas aviadas nas farmácias que tenham sido prescritas aos doentes nas urgências públicas e privadas e nas consultas
Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo vai analisar e disponibilizar informação sobre as receitas aviadas nas farmácias que tenham sido prescritas aos doentes nas urgências públicas e privadas e nas consultas
Informação é conhecimento, e saber é poder. A premissa serve de base a uma iniciativa pioneira no país para melhorar os tratamentos com recurso à toma de antibióticos, reduzindo os agentes patogénicos resistentes à medicação.
A Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo vai analisar todas as receitas de antibióticos aviadas nas farmácias que tenham sido prescritas nas urgências dos hospitais públicos e privados e nos centros de saúde e partilhar a informação com as equipas, incluindo das consultas externas, para que possam atuar de forma mais eficaz.
A abrangência dos destinatários é justificada com a origem das bactérias resistentes aos antibióticos. “A maior parte dos antibióticos são prescritos no ambulatório, onde também começam a maior parte das resistências, que acabam por se refinar nos hospitais”, explica Carlos Palos, responsável pela iniciativa, Programa de Apoio à Prescrição de Antibióticos em Ambulatório.
A análise vai começar a ser feita ainda este ano, podendo assim incluir o inverno e as infeções que lhe estão associadas. “O receituário vai ser resgatado e, pelo menos, trimestralmente partilhada informação. Vamos indicar qual tem sido a prescrição nos grandes grupos de antibióticos, nos antibióticos de largo espetro e a sazonalidade, permitindo inferir qual tem sido a qualidade da prescrição”, diz o médico.
O plano surge por ocasião da Semana Mundial do Antibiótico da Organização Mundial da Saúde, que terminou na quinta-feira. “O objetivo é que os médicos trabalhem a informação para prescreverem melhor”, explica Carlos Palos. E dá um caso concreto: “Podemos reduzir a utilização de amoxicilina com ácido clavulânico e utilizar apenas amoxicilina. O ácido clavulânico é uma espécie de ajudante e não é necessário para a maioria das infeções bacterianas na comunidade. Os pediatras, por exemplo, já têm este cuidado.”
A utilização de antibióticos há muito que é escrutinada em meio hospitalar, com o controlo da infeção e o suporte na prescrição de antibioterapia, e a ARSLVT quer agora reforçar a intervenção nos cuidados primários, também já obrigados a terem programas para controlar infeções e antibióticos. “Todos os Agrupamentos de Centros de Saúde já têm programas, os médicos, um ou dois, nomeados vão analisar a informação juntamente com os farmacêuticos, partilhar os dados, fazer a avaliação, promover atividades formativas...”, adianta Carlos Palos.
Já a decorrer e prestes a terminar, a ARSLVT tem ainda um questionário aos médicos “para perceber qual é o comportamento dos prescritores, fazer uma fotografia e saber onde atuar”. E a informação preliminar tem conclusões importantes: “Uma coisa que os médicos referem sempre é que não têm tempo para explicar aos doentes porque não devem tomar antibióticos ou falta-lhes tempo para acompanharem o doente e esperar pela evolução da doença, optando, por isso, por jogar pelo seguro, optando pelo antibiótico.”
Carlos Palos acrescenta ainda que também há conhecimento sobre o que fazem os doentes. No caso, “a população já sabe que os antibióticos não servem para tratar constipações, mas o comportamento não mudou muito”. E, critica: “Queremos tratar no momento, não toleramos a incerteza e isso reflete-se na prática da prescrição.”
Os alertas mundiais nos últimos anos para a emergência de organismos multirresistentes tem permitido ganhos, mas a batalha continua por vencer. E a covid-19 não ajudou. O consumo de antibióticos nos hospitais, a cair desde 2013, voltou a aumentar. Mas não só, aumentou o consumo de ‘bombas atómicas’ para debelar infeções.
Durante a pandemia, “as equipas de apoio aos antimicrobianos nos hospitais basicamente desapareceram e perdeu-se o foco, a capacidade de apoiar os prescritores”, garante o médico. “Vamos precisar de estudar se, até à pandemia, os prescritores, de facto, tinham mudado a sua prescrição ou se o fizeram porque estavam a ser monitorizados.”
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