O advogado de João Real, o jovem de 19 anos acusado de dois crimes de terrorismo, não acredita que o seu constituinte fosse cometer um ataque à faculdade de Ciências de Lisboa. Questionado pelos jornalistas que se encontram à porta do tribunal, no Campus da Justiça, em Lisboa, se considerava que se o estudante não tivesse sido detido a tempo pela unidade de contraterrorismo da PJ, a 10 de fevereiro este iria cometer um atentando, o advogado negou que algo viesse a acontecer. “Entendo que não. Ele já o tinha adiado várias vezes”, disse Jorge Pracana.
O advogado criticou a ação da Polícia Judiciária, que realizou uma conferência de imprensa no dia seguinte à detenção. “Não era necessário criar um alarme social. Felizmente não houve nenhum ato. Porquê? Os timings foram muito errados. Se ele tivesse sido detido à porta da faculdade…”.
O julgamento de João Real inicia-se esta terça-feira de manhã no Campus da Justiça. Jorge Pracana pediu que o julgamento seja feito à porta fechada para preservar “o futuro” do jovem. “Tem uma vida pela frente. E não o marcar com um carimbo para toda a vida.”
O advogado não garantiu que João Real vá prestar declarações no tribunal.
O suspeito de planear um ataque armado suicida na Faculdade de Ciências de Lisboa foi preso em fevereiro deste ano, antes de poder executar o plano que afixou na parede do quarto onde vivia e foi internado na ala psiquiátrica do Hospital-Prisão de Caxias. Quatro meses depois, a 25 de junho, aceitou falar às autoridades e confessou os atos que levaram o Ministério Público a acusá-lo de dois crimes de terrorismo e posse de arma proibida. “Parte de mim queria morrer. Mas queria matar algumas pessoas antes”, disse o suspeito que admitiu querer matar entre “três” e “dez” vítimas escolhidas ao acaso para se tornar o assassino em massa mais famoso de Portugal. “Seria fixe.”
Jovem de 19 anos acusado de terrorismo é, supostamente, o primeiro a depor no julgamento que começa hoje. O tribunal recusou libertá-lo.
Depois desse interrogatório, além de o ter acusado de terrorismo, o MP considerou que o arguido não podia ir para casa, como pretendia, porque “é de temer que possa sentir o mesmo desejo de matar pessoas e de morrer”.
Esta tese é recusada pela defesa. Na contestação à acusação, o advogado argumenta que João Real é uma “criança no corpo de um adulto” e que “nunca teve real vontade de efetuar os atos” planeados. Atribui a obsessão por ‘mass murderers’ [assassinos em massa] ao “síndroma de Asperger”, diagnosticado ainda em criança, e considera que não poder ser acusado por terrorismo porque “mass murder não é uma ideologia”.
Os psiquiatras que o observaram dizem que João Real é imputável, mas que na altura dos alegados crimes “estava afeto de episódio depressivo que lhe toldava a mundivisão e reduzia o leque de escolhas existenciais”. Por isso, “existem pressupostos para uma redução em grau ligeiro da capacidade para avaliar a ilicitude”. Ainda assim, “apresenta perigosidade em grau moderado”. Se for condenado, deve ir para uma instituição “para inimputáveis”.
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