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Cristina Jorge: “É expectável que a transplantação de órgãos de animais em humanos seja uma realidade na próxima década”

Cristina Jorge é presidente da Sociedade Portuguesa de Transplantação.
Cristina Jorge é presidente da Sociedade Portuguesa de Transplantação.
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Os resultados são bons, mesmo num país com um “SNS doente” e profissionais esgotados. Mais de 50 anos depois do primeiro transplante, no mesmo dia em que o Homem foi à Lua, Portugal mantém-se no top dos países com mais dadores por milhão de habitantes. Mas ainda há caminho e ele avizinha-se promissor. Nesta entrevista, Cristina Jorge, a presidente da Sociedade Portuguesa de Transplantação, avisa que ainda estamos longe dos valores que queremos atingir. O país tem de apostar no transplante com dadores vivos. E na próxima década, espera-se que a xenotransplantação saia “do tubo de ensaio para a prática”

Cristina Jorge: “É expectável que a transplantação de órgãos de animais em humanos seja uma realidade na próxima década”

Joana Ascensão

Jornalista

Passaram-se 53 anos desde que Linhares Furtado, em Coimbra, acordou de madrugada para realizar o primeiro transplante do país. Foi um caminho luzidio inaugurado por baixo dos holofotes da ida à Lua, no mesmo dia, 20 de julho de 1969.

Só com a mudança da lei, em 1993, que instaurou a Lei da Transplantação, se determinou que todas as pessoas seriam, a partir dali, potenciais dadoras, a menos que se manifestassem em contrário. Isso mudou o paradigma do país, que foi já segundo a nível mundial em número de dadores por milhão de habitantes.

Desde então, de ano para ano, não têm parado as inovações numa área que há muito foi considerada central na medicina. Mas durante a pandemia os transplantes reduziram-se e a recuperação ainda não é total.

Como sobreviveu a transplantação durante a pandemia?
Os números reduziram-se sobretudo porque as áreas de cuidados intensivos estavam cheias de pessoas com covid-19, os profissionais estavam assoberbados a cuidar de outros doentes. Se, por um lado, esses doentes não eram candidatos a dadores, por outro lado não havia espaço nas UCI (Unidades de Cuidados Intensivos) para se manterem cadáveres como possíveis dadores. Foi tudo junto.

A falta de acidentes contribuiu?
Houve uma baixa referenciação de dadores, mas não pelo facto de os acidentes serem poucos. A maioria dos nossos dadores, cerca de 80%, sofrem AVC, ficam internados nas UCI e, considerados em morte cerebral, são depois chamados para dadores.

No início da pandemia sabíamos muito pouco. Mas até que ponto, olhando para trás, fez sentido não considerar os doentes covid que estavam a morrer como possíveis dadores?
Na altura pouco se sabia sobre a transmissão da doença e existe sempre perigo de transmissão da doença. Portanto, à partida, quem está infetado não é considerado dador tanto em Portugal como na maior parte do mundo.

Faz sentido?
Faz todo o sentido, por precaução. De qualquer forma, hoje em dia já há países em que pessoas falecidas infetadas com o vírus SARS-CoV-2, são dadoras - e não tem havido problemas, desde que esses órgãos não sejam pulmões.

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