27 junho 2022 11:47
António Guterres e Marcelo Rebelo de Sousa na Conferência dos Oceanos, em Lisboa
rodrigo antunes/lusa
Na Conferência dos Oceanos, a decorrer em Lisboa, o secretário-geral da ONU advertiu que os níveis do mar estão a subir, os corais a morrer e que, sem medidas eficazes, os plásticos nos oceanos podem ultrapassar o peso dos peixes até 2050
27 junho 2022 11:47
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) alertou que o mundo vive atualmente “uma urgência oceânica”, equivalente à emergência climática. Na Conferência dos Oceanos da ONU, em Lisboa, António Guterres discursou primeiro em português, depois em inglês e encerrou com um ditado suaíli. Recorrendo ao poema “O Infante”, de Fernando Pessoa, que começa com “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”, Guterres citou os segundo e terceiro versos: “Deus quis que a terra fosse toda uma/ Que o mar unisse, já não separasse”.
“Não podemos ter um planeta saudável sem um oceano saudável”, advertiu ainda Guterres, depois de fazer uma radiografia negra: os níveis do mar estão a subir e os corais a morrer, sem medidas eficazes os plásticos nos oceanos podem ultrapassar o peso dos peixes até 2050. E alertou igualmente para os esgotos não tratados que continuam a entrar nos oceanos e para as graves interferências na cadeia alimentar.
Guterres traçou um roteiro de quatro medidas a implementar: 1) economias viradas para os oceanos, que sejam sustentáveis em termos de energia, extração de recursos alimentares e outros; 2) encarar o oceano como um modelo para resolver problemas globais para o bem comum; 3) proteger das alterações climáticas as pessoas que dependem dos oceanos; 4) incitar todos os intervenientes, decisores políticos e sociedade civil à adesão à iniciativa, recentemente lançada, de sistema de aviso precoce sobre os impactos nos oceanos.
E, por fim, em suaíli, Guterres declarou: “O oceano leva-nos a qualquer lado.”
A Conferência dos Oceanos, organizada por Portugal e pelo Quénia, arrancou esta segunda-feira em Lisboa e termina na sexta.
Conservação dos oceanos, o mais subfinanciado dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
Por sua vez, ainda na sessão de abertura, o Presidente do Quénia apontou a necessidade “urgente” de edificar uma economia baseada nos oceanos, “onde a proteção eficaz, a produção sustentável e a prosperidade equitativa vão de mãos dadas”. “Estas ações devem ser tomadas coletivamente porque o oceano é um bem comum global”, acrescentou Uhuru Kenyatta.
Se o oceano for gerido de forma mais sustentável, pode “produzir até seis vezes mais comida, gerar 40 vezes mais energia renovável do que atualmente e ajudar a tirar milhões de pessoas da pobreza em todo o mundo”.
“O oceano é o recurso mais subestimado do nosso planeta. A maioria de nós não compreende quão central é o oceano para a existência humana”, lamentou ainda, sublinhando que a conservação e uso sustentável dos oceanos é o mais subfinanciado dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.