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O negócio da saúde mental está a render dinheiro e queixas

O negócio da saúde mental está a render dinheiro e queixas

Com a pandemia, as doenças do foro psicológico agravaram-se. E há quem esteja a lucrar com isso, sem formação na área da psicologia ou psiquiatria. Em 2021, as queixas de usurpação de funções aumentaram seis vezes

Foi em janeiro do ano passado que Paula Fernandes recorreu aos serviços da Clínica da Mente. Tomara conhecimento da clínica e da técnica criada pelo diretor, Pedro Brás, a psicoterapia HBM (Human Behaviour Map, ou “mapa do comportamento humano”), através da televisão, o que a deixou confiante de que iria finalmente ultrapassar a depressão de que sofre “há mais de 20 anos” e poderia arrumar a medicação receitada por psiquiatras. “Achei que era a minha cura e salvação.” Mas afirma que foi “pressionada” a pagar ‘à cabeça’ um pacote de consultas. “Puseram-me entre a espada e a parede dizendo-me que, de outra maneira, pagaria mais caro, e acedi. Gastei ao todo €1900 por um tratamento que passou de semanal a mensal em pouco tempo.” Esta doméstica, de 53 anos, a residir na Maia, Porto, relata que os tratamentos consistiam em “conversas com uma psicóloga e sessões de hipnoterapia a ouvir música”. A sua queixa sobe de tom ao recordar que, no final dos encontros combinados, sofreu de ansiedade e pediu ajuda. “Passei por crises de pânico, estava com vontade de me atirar da varanda. Dormia umas quatro horas e ficava acordada o resto da noite. Os medicamentos que me tiraram faziam-me falta. Mas a psicóloga da clínica desvalorizou, disse que iria passar. Acabei por recorrer à minha psiquiatra, que me estabilizou, repondo-me a medicação.” Paula considera que pagou por uma ilusão que a deixou mais desequilibrada.

A psiquiatra Inês Homem de Melo, médica no Hospital Magalhães Lemos, no Porto, afirma que esta é só uma das muitas queixas que chegaram ao seu consultório após tratamentos falhados com métodos alternativos para curar depressões e outras doenças do foro mental. “Há uma grande iliteracia nesta área.” Sobre a Clínica da Mente e a técnica de psicoterapia HBM, a médica deixa uma crítica: “Aliciam os doentes a pagarem pacotes de consultas a metro, no valor de milhares de euros, como se fosse uma mensalidade de ginásio de luxo em modo de pré-pagamento. Ninguém pode prometer um resultado em xis sessões para pessoas com quadros clínicos distintos.”

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: oemaildobernardomendonca@gmail.com

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