Sociedade

Equipa de Elvira Fortunato cria novo material que permite reduzir o lixo eletrónico

Equipa de Elvira Fortunato cria novo material que permite reduzir o lixo eletrónico

Liderado pela investigadora Elvira Fortunato, o e-Green permite substituir metal e plástico por papel/cartão em placas de circuito impresso de equipamento elétrico e eletrónico

Perante o flagelo do lixo elétrico e eletrónico, um novo projeto, desenvolvido por uma equipa da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova (FCT-Nova) coordenada por Elvira Fortunato, permite o uso de novos materiais renováveis e “eco friendly” em equipamento elétrico e eletrónico, como televisores, computadores ou frigoríficos.

Chamado e-GREEN, o projeto, distinguido com uma bolsa de 150 mil euros do Conselho Europeu de Investigação (CEI), é uma espécie de braço de um outro, também agraciado pela mesma entidade com 3,5 milhões de euros – o DIGISMART (Multifunctional Digital Materials Platform for Smart Integrated Applications, ou “Plataforma multifuncional de materiais digitais para aplicações integradas”) – que a cientista e a sua equipa da FCT Nova desenvolvem desde 2019 e que deverá estar concluído em 2024.

“O Conselho Europeu de Investigação prevê novas bolsas para projetos mais pequenos que permitam viabilizar e comercializar componentes de projetos maiores”, explica ao Expresso Elvira Fortunato. No caso concreto, esclarece, durante as investigações do DIGISMART surgiu a descoberta de que podiam “substituir o plástico e outros materiais nas placas de circuito impresso, onde estão soldados os transístores e microprocessadores, por outros materiais renováveis, baseados na celulose”.

Simultaneamente, acrescenta, descobriram “a possibilidade de substituir os materiais metálicos usados, como condutores, usando a tecnologia laser para queimar materiais da celulose e convertendo-os em grafeno”. Este material à base de carbono é considerado um excelente condutor de calor para usar na eletrónica e a sua descoberta valeu o Prémio Nobel da Física, em 2010, a dois cientistas da Universidade de Manchester, no Reino Unido.

“O projeto e-GREEN permite a formação direta de padrões 3D baseados em grafeno para formação de circuitos impressos em substratos flexíveis recicláveis, evitando a necessidade de utilizar materiais metálicos escassos e não ecológicos para além de processos dispendiosos, poluentes e demorados”, sintetiza Elvira Fortunato. 

O lixo resultante da proliferação de equipamento elétrico e eletrónico somou mais de 53 milhões de toneladas no mundo, em 2019, com problemas acrescidos para o ambiente e para a saúde, já que os aparelhos são desmantelados e não reutilizados, ou não reciclados da forma mais adequada ou cujos processos de reciclagem são caros e usam muita energia. Já estes novos materiais são renováveis, multifuncionais, simples, eficientes, facilmente reproduzidos e podem “ser revolucionários”. 

Os próximos passos do projeto, que tem um prazo de 18 meses, incluem validar os protótipos e fazer uma análise de mercado para ver como podem ser explorados. Elvira Fortunato adianta que “teria muito gosto que fosse tomado por uma empresa nacional”, mas que, “sendo uma investigação global, o importante é que saia da universidade para o mundo”.

O processo tecnológico abrirá novas portas para a eletrónica sustentável. Se para já está a ser desenvolvido para equipamentos de média e grande dimensão, como televisores, aspiradores ou computadores, no futuro poderá ser aplicado aos pequenos “gadgets” eletrónicos. “A investigação e a tecnologia não param”, frisa a investigadora, lembrando que “quando se coloca muita gente e financiamento numa área as soluções aparecem, como aconteceu com as vacinas para a covid-19”.

O e-Green é um dos quatro projetos nacionais premiados, este ano, com bolsas do Conselho Europeu de Investigação.

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