A Urgência de Pediatria do hospital de Portalegre, onde um bebé de oito dias morreu esta quinta-feira, tinha apenas um pediatra de serviço, apesar de estarem dois na escala. O recém-nascido foi transportado para o hospital pelos bombeiros, sem ter sido assistido pelo INEM. Fonte médica ouvida pelo Expresso considera que poderá ter havido “negligência no Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) e bombeiros”.
De acordo com a Sábado, o bebé morreu “por falta de socorro médico”, depois de o pai da criança o ter solicitado e de os bombeiros terem sido acionados “às 9h33”, dado o CODU ter dito que a Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER) “do hospital de Portalegre não estava operacional” por falta de médico.
Para a fonte ouvida pelo Expresso, ao invés dos bombeiros, o CODU deveria ter acionado uma VMER próxima – Alagoa fica a menos de 20 minutos do hospital, referiu.
Ao Jornal de Notícias, o comandante dos Bombeiros Voluntários de Portalegre explicou que o bebé estava “em paragem cardiorrespiratória” quando os meios da corporação chegaram ao local, o que requer pedir “ajuda diferenciada”. Sem equipa especializada, o comandante frisou que os dois operacionais agiram “de acordo com o protocolo”, transportando a criança de ambulância para o hospital.
Vários médicos participaram na reanimação, mas o óbito acabou por ser declarado, disse a mesma fonte médica ao Expresso, precisando que o hospital tinha menos profissionais de serviço do que os que constavam na escala: apenas um pediatra estava na altura, embora constassem dois.
Ao Expresso foi ainda adiantado que o menino era a segunda gestação desta mãe, acompanhada no Hospital Garcia de Orta, em Almada. O primeiro feto não sobreviveu. Sobre o recém-nascido que morreu esta quinta-feira, a médica de família escreveu nos seus primeiros registos que o bebé tinha “reflexos primitivos duvidosos?”, e acrescentou que, em caso de sinais de alarme, deveria ir ao Serviço de Urgência.
Ministério Público abre inquérito para apurar causas da morte
O Ministério Publico de Portalegre revelou esta sexta-feira à Lusa que instaurou um inquérito para apurar as causas da morte da criança.
A Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano (ULSNA), responsável pelo hospital de Portalegre, revelou também ter instaurado um inquérito para apurar “todas as circunstâncias” em que o bebé morreu. Em declarações prestadas esta sexta-feira aos jornalistas, a diretora clínica da ULSNA, Vera Escoto, revelou que a VMER do hospital de Portalegre esteve cerca de sete horas inoperacional por falta de médico, na quinta-feira.
As VMER são responsabilidade do INEM e das unidades hospitalares. Ao INEM compete garantir o veículo e seus equipamentos, enquanto os hospitais garantem a escala dos profissionais de serviço.
De acordo com Vera Escoto, aquela unidade hospitalar “fez todos os esforços” naquele dia para colocar a VMER operacional. “Houve um período, entre 9h00 e as 15h40, em que não houve médico, embora se tivessem feito todos os esforços para colmatar essa situação”, indicou.
A diretora clínica lembrou que se vive “em período pandémico, sendo que “os médicos têm várias solicitações e, por isso, pontualmente, houve a falha neste período”, lamentou. No entanto, Vera Escoto garantiu aos jornalistas que “raramente” a VMER de Portalegre está inoperacional. Mas, “quando não se consegue, porque acontece um imprevisto e dentro da nossa casa [hospital] não conseguimos colocar alguém, poderá ficar a descoberto”, admitiu.
A Ordem dos Médicos também já exigiu que a morte do recém-nascido seja “rapidamente investigada, até às últimas consequências”, por configurar “uma situação muito grave”.
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