Trinta e oito por cento dos rapazes no 2.º ciclo gostam pouco ou nada de ler

Valor quase duplica o registado para as raparigas. E o gosto pela leitura perde-se à medida que a idade avança
Valor quase duplica o registado para as raparigas. E o gosto pela leitura perde-se à medida que a idade avança
Jornalista
A grande maioria dos alunos do 1.º e 2.º ciclos do ensino básico gosta de ler, frequenta a biblioteca escolar e lê pelo menos de vez em quando. Mas os hábitos de leitura vão perdendo fôlego à medida que ficam mais velhos, e apresentam grandes diferenças entre rapazes e raparigas, confirma o estudo “Práticas de Leituras dos Estudantes do Ensino Básico e Secundário”, realizado pelo Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do ISCTE em parceria com o Plano Nacional de Leitura.
Se no 3.º e 4.º anos apenas 17% das crianças inquiridas disseram não gostar ou gostar pouco de ler livros, no 5.º e 6.º anos esse valor salta para os 29%. E se os números forem desagregados por sexo, mais diferenças ficam visíveis: no 1.º ciclo do ensino básico, 89,5% das meninas afirmaram gostar/gostar muito de passar o tempo a ler, valor que cai para os 77% entre os meninos.
No ciclo seguinte, os números são de 80% e 62,5%, respetivamente. Outro exemplo: no 2.º ciclo, 6,9% das alunas dizem que só leem por obrigação, enquanto nos rapazes a percentagem é de 16,9%, ou seja, mais do dobro, revelam os dados apresentados esta semana.
Os investigadores quiseram ainda saber quantos minutos as crianças passavam em média em várias atividades. Num dia sem escola, quem frequentava o 2.º ciclo respondeu assim: 149 minutos no computador/smartphone/tablet; 130 a brincar sem estes dispositivos; 110 minutos a ver televisão; 85 a brincar com consolas e 64 a ler livros que não os manuais escolares.
“Os dados evidenciam usos da leitura (e da escrita) mais desligados do suporte livro”, notam os autores do estudo, coordenado por João Trocado da Mata e José Soares Neves. Esta ‘cultura do ecrã’ é confirmada pelas respostas a outra pergunta sobre a forma mais habitual de escrita: um em cada cinco alunos do 2.º ciclo diz já escrever mais frequentemente no computador ou tablet ou telemóvel do que no papel. O mesmo foi apurado para os jovens do 3.º ciclo. E 36% afirmaram escrever tanto em papel como nos dispositivos digitais.
Sabendo que a relação das famílias com os livros não é na maioria dos casos forte e que os níveis de leitura entre os portugueses, sendo baixos, ainda têm vindo a perder-se, o estudo também destaca o impacto que as atividades relacionadas com a leitura e a escrita em sala de aula podem ter nos alunos. “Quanto maior é a exposição às mencionadas atividades maior é o número de livros lidos.” Em relação ao que testemunham em casa, 39% dos alunos do 1.º ciclo disseram que não viam os pais a ler livros e 62% não iam com os familiares a livrarias e bibliotecas.
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