A Polícia Judiciária já sabia que João Rendeiro estava escondido na África do Sul quando o ex-banqueiro fugido à justiça deu uma entrevista a garantir que só voltaria a Portugal se fosse indultado pelo Presidente da República.
Em conferência de imprensa, o diretor nacional da PJ revelou que Rendeiro entrou na África do Sul a 18 de setembro, quatro dias depois de sair do Reino Unido, para onde tinha viajado, com conhecimento e autorização da justiça portuguesa. As autoridades nacionais já sabiam da sua localização quando a mulher do ex-banqueiro disse ao tribunal, no início de novembro, que o marido estaria naquele país.
"Como se pode calcular, tínhamos de guardar segredo e fico muito feliz, muito feliz mesmo, por desta vez ter sido possível fechar a informação, o que nos permitiu trabalhar com toda a tranquilidade", congratulou-se Luís Neves, sublinhando que "a resiliência" das autoridades portuguesas foi determinante para o desfecho do caso, assim como a colaboração da polícia sul-africana.
De acordo com o responsável, o ex-banqueiro condenado em três processos relacionados com o colapso do BPP esteve escondido na zona mais rica de Joanesburgo, em hotéis de cinco estrelas, mas passou igualmente por várias outras cidades, de forma a dificultar a localização do seu paradeiro. Foi detido esta madrugada num resort de luxo longe de Pretória e de Joanesburgo, num local ainda não precisado pelas autoridades.
"João Rendeiro reagiu [à detenção] surpreso porque não estava à espera. Não usava disfarce, mas tinha muitos cuidados e não circulava livremente na África do Sul", revelou o diretor nacional da PJ, que assegurou que o ex-banqueiro tinha uma rede de contactos naquele país e preparou a fuga "durante vários meses".
"Jamais pretendia entregar-se", frisa PJ
"Rendeiro utilizou todos os meios tecnologicamente avançados para poder contactar de formar indetetável", quer com a família, quer na entrevista que deu a 22 de novembro à CNN Portugal e que foi "encriptada" para não permitir a sua localização. "É um grande sinal de que jamais em tempo algum pretendia entregar-se às autoridades", frisou Luís Neves, adiantando que o fugitivo "tentou ganhar tempo e fez tudo para inviabilizar a extradição".
O diretor nacional da PJ revelou ainda que as autoridades policiais portuguesas reuniram com "os mais altos dirigentes policiais da África do Sul" logo na semana de 20 a 24 de novembro. "Explicámos quão graves tinham sido os crimes cometidos por esta pessoa e tivemos pronta resposta do mais alto dirigente da polícia, que nos disse que ia empregar os melhores meios para o deter, o que aconteceu hoje às 7h da manhã, na África do Sul", explicou Luís Neves.
O responsável máximo da PJ sublinhou que "há possibilidade de extraditar" Rendeiro, que obtivera há um mês autorização de residência na África do Sul e que será agora presente às autoridades judiciais daquele país nas próximas 48 horas.
De acordo com Luís Neves, no momento da detenção o ex-banqueiro disse não estar fugido, o que o diretor da PJ sublinha ser "no mínimo patético".
A PJ quis ainda deixar "uma palavra de satisfação e conforto aos portugueses e às vítimas" dos crimes de João Rendeiro. "Tudo faremos para que a justiça seja materializada", garantiu.
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