Os casos de covid estão a subir em Portugal, mas "não podemos entrar em pânico porque estes níveis de infecāo são normais" e ainda irão subir mais no país, não se devendo com isto avançar com medidas restritivas de fecho da economia e da sociedade- adiantou Pedro Simas, virologista e investigador principal do Instituto de Medicina Molecular, no congresso da Associação Portuguesa de Agências de Viagens e Turismo (APAVT) que decorre em Aveiro até 3 de dezembro.
"Esta estirpe Ómicron já está na Europa toda e vai-se espalhar pelo mundo inteiro. Mas não é um problema, as variantes nunca foram um problema", salientou o especialista, frisando tratar-se do processo natural de imunização num quadro pandémico.
"O nível de infeções que temos em Portugal nesta fase da endemia ainda é baixo e vai subir mais, mas temos de encarar isto com normalidade", explicitou o virologista no congresso de turismo, frisando que o foco deve estar agora não no número de infeções mas no de internamentos e de mortes, que é muito inferior ao que se assistiu em vagas anteriores da pandemia.
Mesmo tendo em conta que temos pela frente um período frio de inverno, "não vai ser por causa da covid que nos vamos descontrolar como aconteceu no ano passado, e há que ter cautela quando impomos restrições", salientou. "Não podemos correr o risco de não abrir a sociedade e de começarmos todos a perder imunidade".
"A partir da próxima Páscoa, as coisas vão mudar completamente, tal como mudaram este verão", sustentou o virologista, lembrando que "o vírus não vai parar quando chegarmos à Primavera de 2022" e mesmo tornando-se endémico tem os seus efeitos. "Dos 20 milhões a 30 milhões de infeções virais respiratórias superficiais que há em Portugal todos os anos, os coronavírus contribuem com 10% a 15%", destacou Pedro Simas.
Generalizar a terceira dose em vez de vacinar crianças
A chave para tornar a pandemia numa endemia controlada, segundo o imunologista, está nas vacinas, e aqui Portugal faz a diferença pela alta taxa de imunização da população, atingindo 88% com as duas doses tomadas.
"As vacinas funcionam, é uma evidência científica, e temos de acreditar na ciência", sublinhou Pedro Simas, para quem "a terceira dose tem um grande impacto, como se verificou em Israel".
O virologista defende que a terceira dose deve ser generalizada em Portugal, "começando pelos mais vulneráveis " e ir descendo pelos escalões etários, em vez de vacinar as crianças.
" Não é necessário vacinar as crianças, com a terceira dose já se consegue um efeito protetor da população a nível global", avançou.
"Portugal vive numa bolha" pela alta taxa de população vacinada, " mas ao mesmo tempo não vive numa bolha pelos efeitos colaterais", de contacto com outros paises, e tendo em conta que "queremos ter uma economia aberta" e sem fecho de fronteiras, destacou ainda o investigador principal do Instituto de Medicina Molecular.
Comparando a atual situação pandémica de Portugal com a da Alemanha, o virologista constatou haver neste país " uma assimetria grande de pessoas não vacinadas", mesmo dentro das mesmas faixas etárias, o que explica por que este país está a ter nesta fase níveis muito superiores de internamentos e de mortes.
"A pandemia em Portugal e na UE já terminou" - foi o o título da comunicação avançada no congresso da APAVT por Pedro Simas, que reconheceu tratar-se de um exagero semântico.
"De facto, a pandemia não acabou, mas vai acabar rapidamente". clarificou o especialista, frisando que "a pandemia biológica está a acabar em Portugal ", mas é preciso contar com "a pandemia sociológica" e os "efeitos colaterais" do contacto com outros países.
"Numa área geográfica em que quase 90% da população está vacinada o vírus já não é pandémico, é um facto científico", sublinhou.