Covid-19. Ordem dos Médicos abre processo disciplinar contra Fernando Nobre

O médico Fernando Nobre está a ser alvo de um procedimento disciplinar pela Ordem dos Médicos (OM). O processo foi aberto pelo Conselho Disciplinar Regional do Sul após a receção de “queixas externas, assinadas por várias pessoas, nem todas da área médica”, adiantou ao Expresso a presidente, Maria do Céu Machado. Em causa estão as declarações do fundador e presidente da Ajuda Médica Internacional (AMI) e ex-candidato à Presidência da República contra a vacinação, a utilização de máscaras e até a participação de médicos nas unidades dedicadas à covid.

Maria do Céu Machado não detalha o teor das queixas que chegaram à OM e adianta que o médico ainda não foi notificado. Após essa diligência, Fernando Nobre terá um período de 15 dias úteis para se pronunciar, seguido por mais sete dias. Caso se mantenha em silêncio findo esses prazos, o processo avança para a discussão em plenário. A decisão “será colegial” e “quase sempre há consenso”. Caso assim não seja, haverá lugar a uma votação. “Já fechámos mais de mil processos e foram raros aqueles que não tiveram consenso”, explica a presidente.

Professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e regente da cátedra de Medicina Humanitária, Fernando Nobre manifestou-se contra a vacina para a covid e a utilização de máscaras e acusou os médicos de ganharem mais dinheiro pelo trabalho nos ‘covidários’ poucas horas depois um grupo de negacionistas ter insultado o Presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, durante um almoço em família junto ao Parlamento, no passado dia 12. Afirmou que “93% a 97% dos testes PCR são falsos positivos” e que se curou da infeção pelo coronavírus pandémico, quando já tinha níveis de oxigénio de 70% e 41º graus de febre, apenas com fármacos sem qualquer indicação científica ou aprovação para a covid-19.

Aos presentes na manifestação negacionista, Fernando Nobre garantiu que a infeção "não se trata com paracetamol, doliprane ou ben-u-ron". E acrescentou: "Trata-se como eu me tratei, tratei a minha mulher, tratei a minha filha: com azitromicina, hidroxicloroquina, ivermectina. Numa semana, estávamos todos curados."

O anestesista e especialista em medicina interna do Hospital de Matosinhos Gustavo Carona foi um dos médicos que se insurgiu publicamente contra o testemunho de Fernando Nobre. Durante o programa "Expresso da Meia-Noite", exibido na passada sexta-feira na SIC-Notícias, Gustavo Carona afimou que "a Ordem dos Médicos, e todas as Ordens, deviam inibir estas pessoas de exercerem". A justificação é simples: "Não é uma questão de opinião, isto é crime. As equipas hospitalares estão a ver pessoas a morrer por causa dessas mensagens [negacionistas]."

Segundo as previsões de Maria do Céu Machado, a OM tem agora cerca de um mês de meio de espera pelas explicações do médico.