“Ninguém quer falar sobre a morte mas ela existe.” João de Bragança é presidente da Comissão diretiva da Acreditar - Associação de Pais e Amigos de Crianças com Cancro e, esta quarta-feira, quando arrancou o mês da sensibilização para o cancro pediátrico, foi uma das vozes pela petição do aumento do número de dias de licença de luto parental. Quando há 20 anos lhe morreu a filha Madalena, de sete, foi trabalhar ao fim de cinco dias. “Foi um automatismo”, explica em entrevista ao Expresso. Agora, quando olha para trás, percebe a importância de ter mais tempo e de como nos dias de hoje há uma maior consciência da desestruturação que fica numa família após a morte de um filho.
“Eu vivia num meio urbano, nunca tive de mudar de cidade, tinha uma rede social, familiar e financeira forte. A minha mulher não trabalhava. Eu tinha uma rede social muito substancial. Agora, as casas da Acreditar estão cheias de famílias que ficam um ano fora de casa. Essas pessoas são vítimas de uma desestruturação brutal, com perdas de rendimento, de afetos, de estabilidade familiar; com perda de contacto com um irmão ou de um pai que normalmente tem de ficar longe para trabalhar. Os irmãos acabam por ficar entregues aos avós ou tios. Isso tem de ser remendado e a ferida, após a morte, tem de ser bem tratada,”, sublinha.
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