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A “violência obstétrica” existe? O termo não é consensual mas já está no Parlamento

A “violência obstétrica” existe? O termo não é consensual mas já está no Parlamento
Susana Gouveia Pereira

Muitas mulheres sentem-se “violadas” pelos profissionais de saúde durante a gravidez e o parto. Médicos e enfermeiros dizem que as coisas estão a mudar mas pedem mais fiscalização. Parlamento aprova resolução que utiliza o termo pela primeira vez

“Agora vai sentir aqui um piquinho, está bem?” Carla Santos, acamada na maternidade do Hospital de Cascais e absorvida pelo trabalho de parto, não conseguiu fazer caso do que a médica acabara de lhe dizer. Sem consentir, estava prestes a ser alvo de um procedimento clínico chamado “episiotomia”, uma incisão efetuada na região do períneo para ampliar o canal de parto, suturada à posteriori com pontos. Trata-se de um procedimento que até aqui tem sido feito de forma preventiva no Sistema Nacional de Saúde (SNS), contra as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), que desaconselha a prática para mulheres em parto vaginal espontâneo. Em Portugal, a taxa de execução deste procedimento chegou a rondar os 70%, de acordo a Associação Pelos Direitos da Mulher na Gravidez e no Parto (APDMGP) e com o Relatório Europeu da Saúde Perinatal, feito em 2010.

“Foi a total infantilização. Eu nem sabia o que era uma episiotomia. Uma enfermeira que me veio ver depois do parto é que me explicou o que me tinham feito”, continua Carla. “Tive direito a tudo e mais alguma coisa sem o meu consentimento. O que eu senti foi que me enfiaram num sistema em que criavam problemas e depois os tentavam resolver. Em que se continua a fazer assim porque sempre se fez assim.”

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