A partir do próximo ano letivo, as escolas contarão com mais 3300 professores para dar apoio aos alunos e promover a recuperação de aprendizagens que ficaram para trás com o ensino à distância, sobretudo a nível do primeiro ciclo. Além dos docentes, vai ser reforçado o número de técnicos especializados, como mediadores, psicólogos, assistentes sociais e terapeutas da fala.
"Há aprendizagens que foram comprometidas num número significativo de alunos. Importa recuperar o que não se aprendeu e garantir que ninguém fica para trás", disse o ministro da Educação, na apresentação do plano de recuperação de aprendizagens que estará em vigor nos próximos dois anos letivos, numa escola na Amadora.
Segundo Tiago Brandão Rodrigues, "é consensual que a recuperação [de aprendizagens] não se faz com o mero aumento de horas de aulas ou de semanas de trabalho", mas antes com medidas diversificadas, pensadas em função das necessidades específicas de cada território e decididas e aplicadas em cada agrupamento.
"A autonomia das escolas é o principal ingrediente" deste plano, que conta com um orçamento global de mais de 900 milhões de euros, nomeadamente para contratação de recursos humanos, formação de professores, reforço de recursos digitais e apetrechamento dos estabelecimentos de ensino.
Será criada uma nova valência do "estudo em casa", desta vez não com aulas emitidas na televisão e disponíveis nas plataformas, mas com um serviço de apoio ao estudo com "produção de recursos para que os alunos possam esclarecer dúvidas e receber indicações sobre como estudar melhor".
O plano apresentado esta terça-feira prossegue o caminho da digitalização das escolas, com o reforço da qualidade da Internet, dos equipamentos de apoio tecnológico e da formação e capacitação digital de professores.
Famílias na escola
Reforçar a articulação com as famílias é outra das apostas, com a criação de um programa de qualificação dirigido aos pais, para que possam voltar a estudar. O Ministério da Educação quer que os encarregados de educação estejam mais envolvidos e presentes nos estabelecimentos de ensino e poderão até vir a fazer desporto na escola, em conjunto com os filhos.
O desporto escolar também será reforçado, nomeadamente com aquisição de bicicletas e capacetes para que todos aprender a andar.
O plano de recuperação de aprendizagens destinado ao ensino básico e secundário foi aprovado, na generalidade, em Conselho de Ministros e resultou de um processo de auscultação de escolas, diretores, professores, alunos e peritos, contando ainda com as recomendações de um grupo de trabalho multidisciplinar, que envolveu investigadores de diferentes áreas.
“Os professores chegaram aos alunos”
No final da apresentação de Tiago Brandão Rodrigues, António Costa tomou a palavra. Primeiro, falou sobre um dia particularmente “difícil”, elogiando a forma como os professores estiveram à altura das barreiras levantadas pela pandemia. “Para mim o dia mais difícil foi quando tive no dia 12 de março de anunciar o fecho das escolas porque soube do impacto que isto ia ter no desenvolvimento das crianças e dos jovens. E como o encerramento da escola iria exponenciar as situações de desigualdade. Foi notável a forma como a comunidade educativa reagiu. Nunca os alunos foram abandonados pelos seus professores. Chegaram lá, por via digital, por telemóvel, telefone e também por mera carta. Mas chegaram. Mas a escola não fechou totalmente, para os filhos dos trabalhadores considerados essenciais, Ficou aberta para muitas crianças, porque a melhor refeição era aquela que tinham no espaço educativo”.
O PM lamentou as interrupções nos anos letivos, que terão “consequências” e que agravaram “as desigualdades existentes”; portanto, “não é possível sair da crise sem olhar para o que as escolas já estão a fazer para a recuperação”. “A pandemia, mais tarde ou mais cedo, vai passar. Esperemos que não deixe sequelas - e a mais grave e duradoura das sequelas é aquela que poderá atingir toda uma geração de crianças, particularmente, a transição de ciclos, o terceiro ano”.
Por fim, Costa referiu-se ao programa de recuperação anunciado previamente pelo ministro da Educação. “Decidimos alocar um conjunto de recursos para apoiar as comunidades educativas. A metodologia escolhida é clara; primeiro estranhou-se e depois entranhou-se: descentralização, flexibilização e autonomia, o triângulo do desenvolvimento. A flexibilização, porque o ensino tem de ser cada vez mais espartilhada, as crianças não podem ser especializadas neste ou naquele domínio. As profissões do futuro ainda não foram inventadas e temos de preparar as crianças para esse futuro. Portanto essa flexibilidade é fundamental. A realidade que é a vida: acordo às nove e faço contas, às 10h, leio, às 11h, Biologia, às 12h, ginástica. A vida não é assim. A flexibilidade é fundamental para as crianças que hoje estamos a formar”.