Sociedade

Graça Fonseca e a polémica Lotaria do Património: “Vários países têm, países que acreditam na capacidade de os cidadãos tomarem decisões”

Graça Fonseca e a polémica Lotaria do Património: “Vários países têm, países que acreditam na capacidade de os cidadãos tomarem decisões”
MANUEL DE ALMEIDA/LUSA

Após uma reunião de ministros da Cultura da UE, em Bruxelas, Graça Fonseca adiantou ainda que “foi mesma sugerida, por diversos Estados-membros, a criação de uma Lotaria Europeia do Património”

Graça Fonseca e a polémica Lotaria do Património: “Vários países têm, países que acreditam na capacidade de os cidadãos tomarem decisões”

Susana Frexes

Correspondente em Bruxelas

A Lotaria do Património tornou-se polémica desde que foi anunciada. Foram muitas as vozes críticas dirigidas ao Ministério da Cultura e à Santa Casa da Misericórdia pela introdução de mais uma raspadinha no mercado, especialmente num momento de crise económica para tantas famílias, mas sobretudo pela capacidade deste tipo de jogo social de gerar dependência e levar muitos apostadores, maioritariamente idosos, à ruína. Apesar da controvérsia, o Governo não recuou e a partir desta terça-feira já se encontra disponível.

Em Bruxelas, após uma reunião de ministros da Cultura, Juventude e Desporto da UE, Graça Fonseca referiu que “a Lotaria do Património é um instrumento, entre vários outros, que tem de ser realizado”, acrescentando que “tem de ser testado para perceber o seu impacto”.

De resto, desvalorizou a questão: “Não há nada de extraordinário nesta matéria. A única coisa de extraordinário nesta matéria é que estamos a fazer exatamente aquilo que outros Estados-membros fizeram”.

A ministra da Cultura realçou que “há diversos países que têm” este tipo “muito popular” de raspadinhas do Património, dando como exemplo a França, afirmando que são “países que acreditam na capacidade dos cidadãos tomarem decisões”. Para reforçar essa ideia, a governante adiantou, inclusivamente, que “na reunião do Conselho foi mesmo sugerida, por diversos Estados-membros, a criação de uma Lotaria Europeia do Património”. A questão da diversificação das fontes de financiamento do património cultural foi um dos temas em debate no encontro presencial de ministros em Bruxelas.

Portugal é o país da Europa que mais dinheiro gasta, per capita, em raspadinhas. As raspadinhas representam metade das receitas dos jogos sociais. Há dois anos eram gastos, em média, 4,7 milhões de euros todos os dias em raspadinhas e 2019 rendeu um jackpot anual de 1718 milhões de euros para a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.

Ao Expresso, o psiquiatra Pedro Morgado, autor de um estudo sobre o impacto das raspadinhas na vida de muitos portugueses, contou que “as pessoas podem investir todo o dinheiro, gastar todas as poupanças e é muito comum contraírem dívidas, como empréstimos bancários. Alguns chegam mesmo a hipotecar os seus bens.”

Quando questionada pelos jornalistas sobre se a criação de uma raspadinha por parte do Estado promove a injustiça social — tal como tem alertado o Conselho Económico e Social — Graça Fonseca foi lacónica: “Não comento”. Ainda assim, explicou, que “sempre que se cria alguma medida política pública, as boas práticas dizem que devem ser avaliados os seus impactos”, assegurando que isso será feito, escusando-se para já a dizer como.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: amcorreia@expresso.impresa.pt

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