Tenho dito aos meus amigos bem nascidos ou mesmo de classe média, Tens andado ansioso e sempre em estado de alerta desde março, não é? Pois, então percebe que ser pobre é estar sempre assim, a pobreza é um 2020/2021 eterno, é estar sempre debaixo deste manto de medo e ansiedade, que, em muitos casos, acaba por alterar a própria estrutura neurológica. E este tipo de cérebro vê coisas 'irracionais' como a raspadinha da mesma forma que um homem perdido num deserto vê um oásis
No filme “The Fences”, uma grande biópsia da pobreza enquanto cultura masculina, a personagem de Denzel Washington goza com um hábito dos outros pobres, que ele vê como mais fracos ou idiotas: “os números”, uma espécie de lotaria ou raspadinha. Ele diz qualquer coisa como isto, Se tivesse um dólar por cada ‘preto’ que joga nos números, eu era rico. Tenho pensado nisto, porque as filas para as raspadinhas cresceram ainda mais nesta Lisboa assolada pela pobreza criada ou reforçada pelo #ficaremcasa. Eu não posso ir comprar um livro à livraria (fechada), mas posso ir enterrar-me no vício da raspadinha na papelaria.
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