Mais de 95% das mortes por covid-19 registadas até agora aconteceram na população com mais de 60 anos. Quando todas estiverem protegidas com pelo menos uma dose da vacina, a situação da epidemia dará lugar a uma nova fase de “esperança”, antecipa o coordenador da task force.
A cobertura vacinal de cada um dos grupos que integravam a primeira fase do plano de vacinação está neste momento com valores entre os 80% e os 99%, o que permite fazer já a “transição” para a segunda etapa. E neste segundo trimestre, com a chegada prevista de mais de 11 milhões de doses de vacinas (1,9 milhões só em abril e mais do dobro do que aconteceu entre janeiro e março), a estratégia passa a ser outra.
A idade é agora o principal critério de seriação e o objetivo é ter todas as pessoas com mais de 60 anos protegidas com pelo menos uma dose da vacina “entre a última semana de maio e a primeira de junho”, indicou o coordenador da task force, Henrique Gouveia e Melo, em mais uma reunião no Infarmed para debater a situação epidemiológica do país.
E a partir daí, já será possível falar em “alguma esperança” no controlo da epidemia ou pelo menos da sua consequência mais grave: até agora morreram quase 17 mil pessoas em Portugal por covid-19 e 96,4% destes óbitos aconteceram em pessoas com mais de 60 anos: 66% tinham mais de 80, 21% entre 70 e 80 e 9% tinham estavam na faixa etária 60-70, especificou Gouveia e Melo.
Entretanto, na mesma reunião, um outro estudo apresentado deu conta dos impactos da vacinação na redução da incidência de casos, internamentos e mortes, com particular destaque na faixa dos mais de 80 anos (mais de 90% deste grupo já está protegido com pelo menos uma dose). De acordo com o estudo revelado por Baltazar Nunes, do Instituto Ricardo Jorge, a vacinação já evitou entre 78 a 140 mortes entre janeiro e abril.
Neste momento, anunciou ainda o vice-almirante, mais de 400 mil pessoas entre os 65 e os 80 anos já receberam a primeira dose da vacina. Isto porque os grupos mais de 80 anos, profissionais de saúde na linha da frente, profissionais prioritários de serviços essenciais, residente e funcionários de lares e pessoas entre os 50 e os 80 anos com uma das quatro cormobilidades definidas para a fase 1 já têm o seu processo de vacinação em fase final e foi possível começar a passar à etapa seguinte.
A estes grupos juntaram-se, entretanto, os profissionais de ensino. Até agora um quarto já receberam uma dose da vacina e todos os restantes docentes e funcionários deverão ser vacinados no próximo fim de semana, num total a rondar as 200 mil pessoas. A operação foi adiada da semana passada para este fim de semana por causa das dúvidas em torno da vacina da Astrazeneca, que devia ser utilizada neste grupo. Pelo menos a quem tiver menos de 60 anos terá de ser administrada a da Pfizer ou da Moderna.
Vacinar por idade decrescente
“Passamos de uma fase de escassez de vacinas, em que tivemos de atender ao detalhe, para um momento diferente em que o mais importante é a fluidez e a capacidade e o ritmo da vacinação”, explicou Gouveia e Melo, acrescentando que a partir de agora a idade passa a ser o principal critério de ordenação e chamada das pessoas a vacinar.
Assim, 90% das vacinas que vão chegando serão alocadas ao grupo 70-80 anos, depois 60-70 anos e assim sucessivamente. As restantes são canalizadas para pessoas com determinadas doenças de maior risco para a covid-19 e que não estão relacionadas com a idade. A lista destas patologias está a ser revista pela Direção-Geral da Saúde.
Outra das metas avançadas pelo coordenador da task force indica que será possível ter todas as pessoas com mais de 30 anos (equivalente a 70% da população total) vacinadas com uma dose entre julho e agosto.
Gouveia e Melo lembrou ainda que nas próximas semanas passará a ser possível fazer o auto-agendamento da marcação da vacina num portal na Internet, escolhendo pelo menos o local de vacinação desejado, o que permitirá também dar mais fluidez ao processo. A quem não for contactado ou não conseguir inscrever-se estando a decorrer a fase em que deveria ser vacinado, o coordenador indicou que será possível pedir ajuda nos postos da GNR, PSP ou bombeiros.
Até ao domingo passado, Portugal tinha recebido 2,6 milhões de vacinas e administrado cerca de 2,1 milhões: primeiras doses foram 1,5 milhões, ou seja mais de 15% da população já tem uma dose tomada, e 6% tomou duas doses, terminando o seu processo de vacinação.
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