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Poluição industrial caiu 28% em Portugal em 2020

Poluição industrial caiu 28% em Portugal em 2020
Nuno Botelho

Quebra no uso do carvão e redução da atividade económica devido à pandemia de Covid-19 estão na base desta quebra de emissões de dióxido de carbono, um dos principais gases causadores das alterações climáticas. As contas foram feitas pela Zero, que contata que a refinaria da Galp de Sines lidera o "Top 10" e que a TAP viu as suas emissões caírem 76%, passando de 3º para 12º lugar do ranking, entre 2019 e 2020.

Poluição industrial caiu 28% em Portugal em 2020

Carla Tomás

Jornalista

As emissões de dióxido de carbono (CO2) das 10 instalações industriais mais poluentes em Portugal caíram 28% entre 2019 e 2020, segundo as contas da ZERO, com base nos dados do registo associado ao Comércio Europeu de Licenças de Emissão (CELE). Os dados indicam que houve uma quebra de quatro milhões de toneladas de gases de efeito de estufa, que passaram de um total de 14,6 milhões de toneladas emitidos em 2019 para 10,6 milhões de toneladas em 2020.

Esta quebra significativa tem uma razão clara, segundo a Zero: “A diminuição do uso do carvão na produção de eletricidade e a redução da atividade económica associada à pandemia”.

O “ranking” dos maiores poluidores industriais é assim “redefinido”. No primeiro lugar está agora a Refinaria de Sines (da Galp, com 1.776.408 toneladas de CO2 emitidas ), que destronou a Central Termoeléctrica de Sines (da EDP, com 1.287.959), que encerrou a 15 de janeiro de 2021 e pouco carvão queimou em 2020. Seguem-se a central de ciclo combinado da Tapada do Outeiro, a central termoeléctrica de Lares, a Cimpor - Centro de Produção de Alhandra, a Central de Ciclo Combinado do Pego, a Central Termoelétrica do Ribatejo, o Centro de Produção de Souselas 819602, a Refinaria do Porto; e, em 10º lugar, a fábrica da SECIL, no Outão.

Estas alterações no “ranking” não são uma total surpresa para os ambientalistas. “2020 é o primeiro ano, desde que na Europa existe o CELE, em que a unidade industrial mais poluente não é a central térmica de Sines a carvão, passando a ser a refinaria de Sines cujo futuro também será cada vez mais complicado devido à redução do uso de combustíveis fósseis”, esclarece ao Expresso o presidente da Zero, Francisco Ferreira. O engenheiro do ambiente sublinha também que “o valor de redução de emissões entre 2019 e 2020, na ordem dos 28%, é muito significativo, principalmente por não ser apenas um resultado da pandemia mas também do encerramento em curso das centrais a carvão”.

Emissões da TAP caem 76%

A que mais posições subiu foi a Central Térmica de ciclo combinado do Pego (a gás natural), que em 2019 nem estava no Top 10, e que com um crescimento de 2,9% de emissões passou de 12º para 6º lugar.

Já as maiores descidas aconteceram com a Central Térmica a carvão do Pego e com a TAP. As emissões da central termoelétrica, que vai ser desativada até final de 2021, tiveram uma redução de 68%. Já as emissões de voos intraeuropeus da companhia aérea portuguesa (só estas são contabilizadas no CELE) caíram 76%, devido à pandemia de Covid-19

O Comércio Europeu de Licenças de Emissão integra 225 unidades de setores fortemente emissores de emissões de CO2 (o principal gás de efeito de estufa causador das alterações climáticas), sendo as mais poluentes as centrais térmicas que utilizam combustíveis fósseis.

Com o fecho das centrais a carvão, o ranking das mais poluentes passa a ser dominado pelo setor da refinação, da produção de eletricidade a partir da queima de gás natural, e do setor cimenteiro. “Nas dez maiores unidades estão agora presentes três cimenteiras (CIMPOR - Alhandra, CIMPOR - Souselas e SECIL – Outão), o que é um indicador de que este setor terá de ser uma prioridade na descarbonização”, sublinha Francisco Ferreira.

Os ambientalistas lembram que “o custo da tonelada de dióxido de carbono atingiu um recente máximo absoluto de 44,14 euros, a 6 de abril de 2021”, o que leva as empresas a quererem reduzir as suas emissões.

A caminho de um corte de 60% até 2030?

Esta quebra de 28% nas emissões, entre 2019 e 202, “tem um significado muito grande” para o cumprimento das metas nacionais de neutralidade em 2050, na opinião de Francisco Ferreira, uma vez que “algumas das mudanças são estruturais, como seja o maior protagonismo das centrais de ciclo combinado a gás natural, muito mais eficientes na produção de eletricidade e portanto com muito menores emissões do que as centrais a carvão que estão a ser desativadas”.

Contudo, não é certo que este nível de cortes se mantenham anualmente até 2030. Se se mantiverem, o ambientalista pensa que “com uma maior fração de eletricidade de fontes renováveis a abastecer também uma parte do transporte rodoviário (o setor protagonista futuro), estaremos sem dúvida em condições de dizer que em Portugal nos aproximarmos bastante duma meta de redução de 60% entre 2005 e 2030”. Porém, de fora destas contas fica a aviação, que “certamente vai recuperar, pelo menos em parte, o nível de emissões pré-pandemia (e que não é contabilizada nas contas nacionais”.

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