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Ursula von der Leyen diz que AstraZeneca só pode voltar a exportar vacinas depois de cumpridos os contratos com a UE

Ursula von der Leyen
Ursula von der Leyen
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A Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse aos jornalistas que a AstraZeneca tem de honrar o contrato com a UE antes de poder voltar a exportar vacinas. Os líderes não descartam recorrer ao bloqueio das exportações, mas reconhecem que é preciso cautela para não colocar a própria cadeia de abastecimento em risco

Ursula von der Leyen diz que AstraZeneca só pode voltar a exportar vacinas depois de cumpridos os contratos com a UE

Ana França

Jornalista da secção Internacional

Ursula von der Leyen diz que AstraZeneca só pode voltar a exportar vacinas depois de cumpridos os contratos com a UE

Susana Frexes

Correspondente em Bruxelas

Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, disse esta quinta-feira à noite, numa conferência de imprensa logo a seguir à reunião com os líderes dos 27, que a AstraZeneca tem de assegurar os seus compromissos no fornecimento de vacinas para a UE antes de poder exportar doses para fora do espaço europeu.

"Temos de garantir aos nossos cidadãos que eles têm acesso ao que lhes é devido e por isso concordámos que as empresas farmacêuticas têm de honrar os contratos com UE antes de poderem exportar para outras regiões no mundo - e este é, claro, o caso da AstraZeneca”, disse von der Leyen acrescentando ainda que também para a própria empresa isso é “evidente”.

Dados divulgados esta tarde pela responsável revelam que 18,2 milhões de adultos dos perto de 400 milhões de cidadãos da UE receberam já a segunda dose da vacina contra a covid-19, levando assim a que só 4,1% da população europeia esteja completamente imunizada. "Teríamos sido muito mais rápidos na entrega de vacinas se as farmacêuticas tivessem cumprido o acordado. A AstraZeneca entregou menos doses do que aquelas a que o contrato a obrigava”, disse von der Leyen.

Com o número de casos de Covid19 de novo a subir na Europa, os 27 repetem que é preciso acelerar a produção de vacinas e garantir que as farmacêuticas com as quais foram fechados contratos cumprem as entregas nem que para isso seja preciso recorrer "a todos os instrumentos, incluindo a proibição de exportações se tal vier a ser necessário", afirmou também António Costa. Contudo, adianta que é essencial salvaguardar "sempre as cadeias de fornecimento que são indispensáveis para assegurar o bom funcionamento da indústria, quer na Europa, quer fora".

Costa prefere não falar de países em concreto - caso do Reino Unido - que podem ser alvo de medidas mais duras, optando antes por reforçar que "as ferramentas estão em cima da mesa” e que o Conselho concordou em utilizá-las com “a devida prudência e bom senso". “O objetivo aqui não é bloquear as exportações, é assegurar que não somos bloqueados pelos outros nas exportações para a União Europeia e é esse balanço e esse equilíbrio que é fundamental”, disse ainda.

Falta saber se a ameaça de bloqueio de exportações passa à prática, desde logo com o Reino Unido, que já recebeu mais de 20 milhões de doses do bloco europeu. No sentido contrário não circulou nenhuma, apesar de o contrato com a AstraZeneca prever o fornecimento de vacinas a partir de duas fábricas britânicas.

Os 27 querem reciprocidade e garantir que não são os únicos a pagar as quebras de produção da AstraZeneca, mas Berlim prefere o diálogo à guerra aberta e não é a única a alertar para prudência.

"Ao mesmo tempo, foi ontem dito correctamente que em relação à Grã-Bretanha, queremos uma situação vantajosa para ambas as partes, queremos agir com sensatez política, porque por vezes é um pouco mais complicado do que parece à primeira vista".

A prudência de muitos líderes está relacionada com as cadeias globais de produção e abastecimento e o receio de que uma proibição de exportação de vacinas desencadeie reações adversas e crie obstáculos na circulação de componentes e matérias primas produzidas fora da UE e das quais a UE também precisa para fabricar vacinas. O próprio primeiro-ministro também alertou para estes riscos.

“Pelo menos uma das vacina tem mais de 80 componentes, muitos vêm de fora da Europa", lembra Costa. "Se nós recusamos a exportação dessa vacina, arriscamos a que não nos forneçam alguns desses componentes.”

A presidente da Comissão também se focou bastante na questão da transparência nas suas respostas aos jornalistas, garantindo que a UE tem mecanismos para ir avaliando se todas as empresas estão a cumprir o acordado. “Em primeiro lugar queremos transparência. Temos orgulho que a UE seja das mais abertas regiões do mundo no que toca a vacinas e produtos farmacêuticos. Convidamos todos a juntarem-se a nós nesta transparência porque sabemos que temos cadeias de abastecimento pelo mundo todo que têm de permanecer intactas”.

Desde dezembro, foram exportadas cerca de 77 milhões de doses para mais de 80 países e Bruxelas e os líderes garantem que essa abertura deverá continuar.

A UE “fala todos os dias” com as empresas produtoras de vacinas, disse Von der Leyen, para garantir que os princípios da proporcionalidade e a reciprocidade são respeitados: “Na questão da reciprocidade é importante que exista transparência para sabermos quantas vacinas estão a ir para países que também as produzem”.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: afranca@impresa.pt

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